Os tremores são um dos sintomas mais debilitantes da doença de Parkinson, afetando a qualidade de vida de milhões de pessoas. De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 20% da população acima de 65 anos sofre com o tremor essencial, que também pode aparecer em idades mais jovens, limitando atividades diárias e hobbies.

Até recentemente, os pacientes no Brasil tinham como opções apenas medicamentos com efeitos variados ou a cirurgia de estimulação cerebral profunda (DBS), que envolve a colocação de eletrodos no cérebro para modular os sinais elétricos disfuncionais. No entanto, uma nova tecnologia revolucionária chegou ao Brasil: o ultrassom focalizado de alta intensidade (HIFU), prometendo transformar a maneira como tratamos os tremores do Parkinson e do tremor essencial.

Mas o que é exatamente o HIFU? A tecnologia utiliza ondas sonoras de alta frequência, que, quando focadas em um único ponto, podem causar microlesões em tecidos específicos do cérebro, de forma controlada e precisa. O equipamento se assemelha a um capacete que contém mais de mil transdutores de ultrassom. Durante o procedimento, que ocorre em um ambiente de ressonância magnética, os médicos monitoram em tempo real a localização exata dos neurônios tratados.

Rodrigo Gobbo, diretor médico do Centro de Medicina Intervencionista do Einstein, explica que a abordagem é bastante segura, já que o paciente permanece acordado e pode interagir com os médicos durante o tratamento. Testes neurológicos são realizados em tempo real para garantir que a intervenção está sendo eficaz e para evitar possíveis efeitos colaterais.

Polyana Piza, neurologista e gerente médica do Programa de Neurologia do Einstein, destaca que, curiosamente, a primeira lesão realizada é reversível. “Usamos uma temperatura menor para entender como o paciente reage antes de avançar”, ressalta. Normalmente, são realizadas três microlesões em uma área do tálamo, parte fundamental do cérebro que processa informações motoras e sensoriais.

A técnica já mostrou resultados promissores. Um dos primeiros pacientes a ser tratado relatou que, uma semana após o procedimento, os tremores do Parkinson desapareceram, uma mudança que antes parecia impossível. Esse senhor, que antes se via limitado em suas atividades, agora consegue viver com mais liberdade.

O HIFU se torna uma opção especialmente relevante, pois muitos pacientes enfrentam dificuldades com os tratamentos tradicionais. A medicação, muitas vezes, só consegue oferecer alívio em até 30% dos casos. A expectativa dos médicos do Einstein é que essa nova tecnologia alcance um número significativo de pacientes, uma vez que a demanda é alta no Brasil.

Ainda não foi divulgado o custo do procedimento, mas Gobbo sinalizou interesse em parcerias com o setor público para tornar essa inovação acessível a todos os que necessitam. Com isso, milhões de brasileiros poderiam finalmente ter a chance de se libertar dos sintomas debilitantes dos tremores, ajudando a melhorar a qualidade de vida de uma parte significativa da população.