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Risco de recessão nos EUA: qual seria o impacto devastador no Brasil e no mundo?

2025-03-23

Autor: Pedro

Recentemente, o debate sobre a possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos intensificou-se, alimentado pela queda do mercado de ações e indicadores que apontam um esfriamento econômico na maior economia do planeta. Tais preocupações estão diretamente ligadas às polêmicas medidas do presidente Donald Trump, que tomou posse em janeiro e anunciou novas tarifas comerciais para países como China, Canadá e México.

A instabilidade aumentou após uma entrevista à Fox News, onde Trump insinuou que uma recessão poderia ser uma realidade iminente, mencionando um "período de transição" no país. Embora muitos economistas ainda acreditem que não há risco concreto de recessão – geralmente definida como dois trimestres consecutivos de queda no PIB – a incerteza no ar pode prejudicar a atividade econômica e afetar investimentos.

As tarifas que estão sendo implementadas têm o potencial de elevar os preços dos produtos importados, com os custos sendo repassados aos consumidores, o que poderia pressionar a inflação. A ameaça de uma guerra comercial pode ainda desestabilizar as cadeias de suprimentos globais. E é exatamente essa influência que torna uma recessão nos EUA uma preocupação que reverbera pelo mundo, impactando duramente países como o Brasil.

"Embora a recessão não seja nosso cenário base, sua probabilidade aumentou no curto prazo", afirma Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, em entrevista à BBC News Brasil. Ele alerta que isso poderia limitar e reduzir o fluxo de negócios a nível global, encorajando bancos centrais a adotar políticas monetárias mais flexíveis, com cortes de taxas de juros.

Impactos diretos

Em um recente relatório econômico, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revisou para baixo suas previsões de crescimento mundial devido às incertezas trazidas pelas novas políticas de Trump. As projeções para o Brasil também foram reduzidas, de 2,3% para 2,1% este ano, e para 1,4% no ano seguinte, refletem como as tarifas elevadas sobre exportações de aço e alumínio já estão afetando a economia brasileira.

Caso os Estados Unidos reduzam suas importações, o Brasil, que é o segundo maior exportador para o solo americano, após a China, pode sofrer uma queda significativa nas suas vendas. No ano passado, o comércio entre Brasil e EUA alcançou cifras recordes, com exportações brasileiras totalizando US$ 40,3 bilhões. O impacto de um recuo na demanda externa poderia ser devastador para a economia local.

Na esfera financeira, a recente queda nos índices de ações dos EUA também reverberou no Brasil. A queda do Ibovespa e a valorização do dólar mostraram como as interconexões financeiras são vulneráveis a crises em grandes economias. "Um cenário de recessão nos EUA certamente impactaria a economia brasileira, especialmente a exportação de commodities, que deverá enfrentar uma desvalorização de preços", destaca Rostelato.

Aumento de preços e o impacto nas famílias

O economista Gustavo Cruz, da RB Investimentos, enfatiza que mudanças na economia americana têm reflexos diretos na vida dos brasileiros, citando a recente alta no preço do ovo. Em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apontou um aumento de 15% nesse item, em parte devido à crescente demanda dos EUA, que enfrenta problemas na produção por conta da gripe aviária.

"Os consumidores estão sentindo essa pressão de inflação, com itens básicos como alimentos se tornando cada vez mais caros", observa Cruz. Embora o início do ano tenha mostrado um aumento nas exportações, a possibilidade de uma recessão americana gera dúvidas sobre a continuidade dessa alta.

Empresas brasileiras com operações nos EUA, como Embraer e Gerdau, também temem por suas expansões. Qualquer desaceleração da economia americana pode levar não apenas à estagnação desses negócios, mas também a cortes de empregos no Brasil.

China é parte da equação

Outro ponto crítico a ser considerado é a influência da China, maior parceiro comercial do Brasil, frente às novas tarifas de Trump. Uma desaceleração na economia chinesa, aliada a um comportamento similar nos EUA, poderia significar um colapso nos preços internacionais para produtos agrícolas exportados pelo Brasil.

"Este ano tinha tudo para ser promissor para o agronegócio, mas se as duas maiores economias do mundo pararem de crescer, o reflexo será uma queda nos nossos preços também", conclui Cruz. As situações anteriores relacionadas à recessão sempre focaram em aspectos de consumo, mas agora a preocupação gira em torno da cadeia produtiva e como as decisões políticas podem desencadear um efeito dominó negativo em diferentes setores da economia.

As incertezas que permeiam a situação atual sinalizam que, se nada mudar, essa recessão poderá ser uma realidade que não apenas se sente na economia americana, mas que deixará marcas profundas em economias ao redor do mundo, com o Brasil na linha de frente dessa crise.