Rússia e Ucrânia colocam fim no fornecimento de gás natural russo à Europa em meio ao conflito
2025-01-01
Autor: Fernanda
Nesta quarta-feira, grande parte da Europa perdeu o acesso ao gás natural russo após o término de um contrato que garantia o fornecimento contínuo por meio de gasodutos na Ucrânia, onde a guerra atualmente persiste. O acordo, assinado em 2019, teve duração de cinco anos, mas não foi renovado em virtude da escalada do conflito. Embora a União Europeia tenha afirmado estar preparada para essa interrupção, a situação gerou preocupações, especialmente para os países do Leste Europeu, que se aproximam do inverno, quando as temperaturas podem cair drasticamente.
A Gazprom, principal empresa fornecedora de gás natural do mundo, anunciou que "desde as 08h00 [02h00 em Brasília] não foi mais fornecido gás russo por meio da Ucrânia", sinalizando uma mudança significativa no abastecimento.
Por décadas, o gás da Rússia era transportado para a Europa através de gasodutos que passam pela Ucrânia, desde a desintegração da União Soviética em 1991. Especialistas interpretam a suspensão do fluxo como parte de uma estratégia mais ampla de Kiev e seus aliados ocidentais de inibir a capacidade financeira de Moscou para sustentar seu esforço de guerra. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, destacou que seu país não permitiria que a Rússia "ganhasse bilhões" às custas de vidas ucranianas. Ao mesmo tempo, o governo polonês classificou o corte como “outra vitória” contra Moscou.
O ministro da Energia da Ucrânia, Guerman Galushchenko, comentou sobre a importância desse ato, afirmando que "interrompemos o trânsito do gás russo, é um acontecimento histórico. A Rússia perde mercados e sofrerá perdas financeiras".
A União Europeia assegurou que estava "preparada" para o corte do gás, que correspondia a apenas 5% dos 10 bilhões de metros cúbicos de gás que a UE importa do exterior. No entanto, mesmo com os cortes, a Rússia ainda representava cerca de 10% das importações totais, refletindo a redução significativa na dependência do continente em relação a Moscou, que chegou a ser de 40% em 2021.
Em relação a alternativas, o gás russo ainda está sendo fornecido à Europa através de gasodutos submarinos, como o "TurkStream", que transporta gás através do Mar Negro para países como Sérvia, Turquia, Bulgária e Hungria, além de importações de gás natural liquefeito (GNL) via navios-tanque.
Enquanto muitos países, como a Áustria, estão se preparando para o fim total do gás russo, a Moldávia enfrenta uma situação crítica, já que não é membro da UE e depende fortemente desse fornecimento. O país declarou estado de emergência, especialmente porque o fim do gás também ameaça sua principal fonte de eletricidade, uma usina termelétrica na região separatista da Transnístria, que fornece dois terços da eletricidade consumida na Moldávia.
A presidente da Moldávia, Maia Sandu, afirmou que a Rússia está utilizando a energia como uma forma de chantagem para influenciar os eventos políticos e eleitorais em seu país. A situação é tão grave que, segundo a BBC, os serviços de emergência na Transnístria foram forçados a cortar aquecimento e água quente, orientando os moradores a se aquecerem com cobertores e a usarem aquecedores elétricos à medida que as temperaturas caíam abaixo de 0°C.
No interior da UE, vozes críticas à decisão da Ucrânia também surgiram. O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, buscou dialogar com o presidente russo Vladimir Putin sobre o impacto da decisão no fornecimento de gás. A Eslováquia, sendo um ponto estratégico para a entrada de gás russo na UE, enfrenta pressão para ajustar suas táticas de fornecimento energética.
Por fim, no campo militar, a Ucrânia também se viu sob intensos ataques aéreos. A virada do ano foi marcada por uma série de ataques com drones russos na capital, Kiev, resultando em feridos e danos a várias estruturas, incluindo prédios residenciais e instalações do governo. Este cenário reforça a dura realidade da guerra que persiste em solo ucraniano, enquanto o futuro energético do continente europeu permanece em um estado de incerteza e altos riscos.