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Rússia muda discurso e negocia permanência de bases militares na Síria

2024-12-11

Autor: João

O cenário na Síria está passando por mudanças significativas após a recente mudança de governo. O grupo que assumiu o controle do país levou à fuga do presidente Bashar al-Assad para a Rússia e, nesse novo contexto, a nomenclatura utilizada pela Rússia para se referir aos rebeldes também se alterou, de ‘terroristas’ para ‘opositores’. Essa mudança de tom indica uma nova estratégia diplomática.

A razão por trás dessa mudança está diretamente relacionada às bases militares da Rússia na Síria, que ocupam posições estratégicas para o Kremlin, permitindo a movimentação de tropas e suprimentos entre a Rússia, o Oriente Médio e a África.

Atualmente, Moscou está em negociações com os novos líderes sírios para garantir a manutenção dessas bases, vitais para seus interesses militares, mesmo após as recentes ações militares russas, que resultaram em 55 veículos danificados e cerca de 300 rebeldes mortos.

Um porta-voz do governo russo, em declarações recentes, enfatizou a necessidade de uma análise profunda dos eventos em curso, sugerindo um período de incertezas. Essas negociações incluem também mediadores como a Turquia e o Irã, buscando assegurar que as bases russas não sofram ataques durante a transição de governo na Síria.

O apoio da Rússia ao regime de Assad é antigo. Desde 1971, a aliança russa com Hafez al-Assad foi formalizada com um acordo para a criação de uma base naval em Tartus, que fica a cerca de 250 quilômetros de Damasco. Esta instalação é a única base russa no Mediterrâneo, crucial especialmente após a proibição de passagem pelo estreito de Bósforo. Além da base de Tartus, a Rússia opera o aeroporto de Hmeimim, cerca de 310 quilômetros de Damasco, que possui pistas suficientemente grandes para receber aviões de carga pesada, como o Ilyushin Il-76 e o Antonov An-124.

O Ilyushin Il-76, projetado para transporte de tropas e cargas pesadas, tem capacidade para carregar de 20 a 60 toneladas e acomodar até 225 soldados. Já o Antonov An-124 é considerado o maior avião de transporte de carga do mundo, com capacidade para 150 toneladas, tornando-se essencial para operações logísticas na região.

O presidente russo Vladimir Putin manifestou em 2017 a intenção de manter uma forte presença militar na região, afirmando que, caso os ‘terroristas’ do Estado Islâmico voltassem a agir, a resposta seria contundente. Tais declarações ressaltam a importância das bases como não apenas pontos de apoio, mas como parte de uma estratégia militar mais ampla.

Além disso, a relevância do porto de Tartus e do aeroporto de Hmeimim vai além do controle militar, servindo também como um hub logístico para operações russas na África. Os voos de carga podem reabastecer nesse aeroporto antes de prosseguirem para países como Líbia e Moçambique, onde grupos paramilitares como o Grupo Wagner estão ativos. Essa conexão aumenta a influência da Rússia na região, tornando a dinâmica geopolítica ainda mais complexa.