Sabe o que aumenta em 31% o risco de demência na velhice? A solidão!
2024-11-24
Autor: João
Sentir-se solitário na velhice pode aumentar em impressionantes 31% o risco de desenvolver demências e elevar em 15% a probabilidade de comprometimento das funções cognitivas, como memória e concentração. Este dado alarmante é revelado em uma nova revisão de estudos que analisou autorrelatos de solidão e saúde neurológica de mais de 600 mil pessoas ao redor do mundo, publicada em outubro na renomada revista Nature Mental Health.
A solidão tem se tornado um foco crescente de pesquisa em saúde pública, pois a falta de conexão social está diretamente associada a diversas doenças. Liderada por cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual da Flórida, a nova pesquisa mostra que a solidão é um fator de risco significativo para demências de todas as causas, incluindo Alzheimer e demência vascular.
Os pesquisadores descobriram que essa associação persistiu mesmo após ajustarem os dados para fatores como depressão, isolamento social e outros riscos modificáveis. "Esses resultados destacam a urgência de investigarmos mais profundamente a natureza da solidão e os sintomas cognitivos para desenvolver intervenções eficazes que possam mitigar o risco de demência", afirmam os autores da pesquisa.
Entenda a diferença: solidão x isolamento social
Muitas pessoas confundem solidão com isolamento social, mas estes conceitos são distintos. O isolamento social ocorre quando um indivíduo não possui uma rede de apoio: mora sozinho, não tem amigos ou familiares por perto com quem se socializar. Já a solidão é um sentimento que pode surgir mesmo em meio a uma vida social ativa e circundada de pessoas.
"Uma pessoa pode estar em uma casa de repouso cheia de idosos e profissionais de saúde, mas ainda assim sentir solidão por não receber o suporte emocional que precisa. Ou pode viver com a família e se sentir solitária pela falta de atenção", explica a geriatra Thaís Ioshimoto, do Hospital Israelita Albert Einstein.
O comprometimento cognitivo é outro tema relacionado, que ocorre quando a pessoa enfrenta dificuldades nas funções cerebrais, como memórias falhando ou problemas de linguagem. É normal que com a idade todos apresentem algum grau de comprometimento cognitivo, porém, apenas quando isso impacta significativamente nas atividades cotidianas é que pode indicar demência.
A interação social é fundamental: ao estimular diferentes regiões do cérebro, pode combater o agravamento do comprometimento cognitivo. "A solidão leva a um agravamento cognitivo devido à falta de interação com outras pessoas e à ausência de apoio emocional", analisa Dr. Ioshimoto.
A boa notícia é que a solidão é um fator de risco modificável. Existem várias ações que podem ser implementadas para reduzir o risco de demência. Além da clássica recomendação de uma dieta equilibrada e exercícios físicos regulares, ações adicionais, como evitar a exposição à poluição, prevenir a perda auditiva, buscar educação contínua e não fumar têm um papel importante na proteção da saúde cerebral.
À medida que a população mundial envelhece, os resultados desse estudo se tornam ainda mais relevantes, reforçando a necessidade de estratégias que promovam o cuidado e a inclusão social dos idosos. Isso é essencial para combater o etarismo – preconceito baseado na idade – e prevenir demências.
"Frequentemente, evitamos interagir com os idosos porque pode ser desafiador: eles têm dificuldades auditivas, podem entender mais lentamente e demandam mais paciência. Assim, muitas vezes, somos nós que os isolamos do convívio social", alerta Thaís Ioshimoto. "Vivemos em uma sociedade que frequentemente marginaliza os mais velhos. Precisamos urgentemente cultivar uma cultura de inclusão e valorização da terceira idade!"