Sesau é processada por negligência em caso de complicações pós-cirúrgicas de paciente com câncer
2024-11-18
Autor: Carolina
A história de Odigevan Araújo da Silva, de 49 anos, é um alerta sobre as falhas no sistema de saúde pública. Ele passou por uma cirurgia para remoção de um câncer na língua em junho deste ano, mas sua recuperação foi marcada por um trágico desenrolar de eventos que resultaram na ação judicial contra a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau).
Após a cirurgia, Odigevan entrou em coma e passou impressionantes 28 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral de Roraima (HGR). Ao sair da UTI em 17 de julho, ele ainda precisou de tratamento no hospital por mais 38 dias, recebendo alta apenas em 23 de agosto. Durante esse tempo, sua família ficou angustiada com a falta de informações e assistência adequada.
"Fomos informados de que ele não estava reagindo aos medicamentos, mas logo em seguida ele começou a responder e a melhorar. Mesmo assim, desde que saiu do hospital, nunca recebemos qualquer tipo de assistência por parte deles. Tivemos que entrar com um processo para garantir a alimentação via sonda através da Defensoria. Foi só depois disso que conseguimos a nutrição que ele precisava", conta o irmão de Odigevan, que preferiu não ser identificado.
Após a alta, a situação se agravou. Embora Odigevan tenha recebido encaminhamentos para consultas com neurologista, nutricionista, fisioterapeuta e outros especialistas, nada foi agendado pela rede pública. Os familiares relatam que, em suas tentativas de marcar as consultas, foram informados por funcionários do hospital que aquelas responsabilidades estavam nas mãos do município, enquanto que na Unidade Básica de Saúde (UBS) receberam a mesma resposta afirmando que era a responsabilidade do estado.
"É um verdadeiro pega-pra-capar! O estado diz que não é mais sua responsabilidade, e o município afirma que precisa ser pelo estado. A médica da UBS até tentou marcar as consultas de emergência, mas ele acabou na lista de espera, apesar de ser prioridade", lamenta o irmão.
Em casa, Odigevan enfrentou episódeos de epilepsia e até paradas cardiorrespiratórias, tudo devido à falta de acompanhamento médico adequado. A família agora gasta mais de R$2 mil por mês com medicamentos e outros cuidados essenciais, como a alimentação por sonda e insumos de higiene.
Pedro Quirino, advogado da família, descreve a situação como uma grave negligência do estado, que resultou na deterioração da saúde de Odigevan. "Estamos preparando as medidas legais cabíveis por conta da conduta irresponsável do Poder Público. A negligência é clara e precisa ser responsabilizada", afirmou Pedro.
Em resposta à ação, a Sesau alegou que prestou assistência a Odigevan durante a internação, mas indicou que a família deveria ter apresentado um laudo médico para receber a alimentação enteral e fraldas geriátricas, o que, segundo eles, não ocorreu. A Secretaria também destacou que os familiares poderiam procurar a UBS local para solicitar o fornecimento necessário, visto que isso é atribuição da atenção primária à saúde sob manejo municipal.
Apesar das alegações da Sesau sobre o fluxo adequado de agendamentos de consultas médicas, os familiares indicam que não houve suporte suficiente para atender a urgente necessidade de cuidados de saúde de Odigevan. Esta situação levanta sérias questões sobre a eficiência do sistema público de saúde e o amparo que deveria ser dado a pacientes em condições vulneráveis.