Uma pesquisa publicada no Addiction Journal explora uma solução inovadora para combater a epidemia do cigarro eletrônico: um spray bucal de nicotina desenvolvido pela empresa americana Kenvue, anteriormente parte da Johnson & Johnson. Os resultados iniciais são alentadores, especialmente ao considerar que de 70% a 80% dos jovens que tentam abandonar o uso do dispositivo frequentemente não conseguem fazê-lo sem ajuda.

O Desafio da Absorção Rápida

Uma das grandes questões que a pesquisa aborda é a farmacocinética da nicotina, que se refere à forma como o corpo absorve e elimina essa substância. Por exemplo, enquanto adesivos e gomas de mascar são absorvidos lentamente, o cigarro eletrônico libera nicotina em questão de segundos, o que pode ser um desafio para quem tenta parar. Rajesh Mishra, diretor médico da Kenvue, explica que a urgência que muitos usuários sentem ao acordar, buscando o vape, torna fundamental o desenvolvimento de um tratamento que atenda a essa necessidade imediata.

O Intervalo de Tempo é Crucial

Os produtos de nicotina tradicionais, como os adesivos, podem levar de oito a dez horas para atingir concentrações suficientes no sangue para aliviar os sintomas de abstinência, enquanto o novo spray alcança níveis significativos em apenas 30 segundos, o que é um avanço considerável. O estudo realizado em Londres envolveu 216 participantes que se tornaram dependentes do cigarro eletrônico e tiveram suas respostas examinadas antes e depois do uso do spray de nicotina.

Metodologia do Estudo

Os pesquisadores dividiram os participantes em dois grupos: um recebeu o spray verdadeiro, enquanto o outro, sem saber, utilizou um placebo. O spray testado entregou uma dose precisa de 1 miligrama de nicotina, um fator crucial para garantir a eficácia do tratamento.

Segurança e Eficácia

A preocupação com a segurança do spray de nicotina é válida, especialmente considerando a associação entre cigarro e tumores. No entanto, Mishra assegura que, quando utilizado apenas durante um tratamento, o spray é seguro. Além disso, os dados iniciais mostraram que o spray não apenas reduziu a urgência de fumar, mas que esse efeito se manteve por até duas horas após a aplicação.

O Que Esperar do Futuro

Apesar das promessas, especialistas, como o pneumologista Gustavo Faibischew Prado, alertam que mais estudos são necessários para validar a eficácia a longo prazo do spray. O ideal seria uma investigação envolvendo um número maior de participantes e a aplicação de diferentes combinações de tratamento. Enquanto isso, a luta contra o vício em nicotina segue urgente, visto que o tabagismo continua a ser uma pandemia que afeta mais de um bilhão de pessoas mundialmente, resultando em cerca de 8 milhões de mortes por ano.

A Nova Realidade do Tabagismo

Vale ressaltar que, nos últimos 40 anos, a proporção de fumantes tem diminuído, e o Brasil tem se destacado com uma redução de 35% nesse número. No entanto, a popularização do cigarro eletrônico surge como um novo desafio. Estudos indicam que o vaping pode representar riscos semelhantes aos do tabagismo tradicional, incluindo doenças cardíacas e câncer. Fatores como este aumentam a urgência de se encontrar soluções eficazes, como o spray bucal de nicotina. A regulamentação e a conscientização sobre os perigos do cigarro eletrônico são cruciais para que a luta contra o vício continue, e o spray pode ser uma peça fundamental nesta batalha.