
Taxação de Trump Pode Impulsionar Agro Brasileiro em Meio à Guerra Comercial
2025-03-24
Autor: Mariana
As oscilações do mercado global estão trazendo novas oportunidades para o agronegócio brasileiro, especialmente com as recentes decisões de taxação implementadas pela administração Trump. A tributarista Priscila Ziada Camargo Fernandes, sócia do escritório Ernesto Borges Advogados e especialista em recuperação de ativos no setor agro, acredita que essa mudança pode resultar em uma alta significativa das commodities brasileiras. No entanto, o impacto real dessa tensão entre Estados Unidos e China ainda exige acompanhamento, especialmente até o término da colheita da safra.
Com a possibilidade de aumento dos preços, a expectativa é que a importação chinesa reduza a oferta de commodities nos Estados Unidos, ao mesmo tempo que deve fortalecer os preços no Brasil. Priscila ressalta: “De fato, haverá um impacto positivo, pois enquanto o mercado americano poderá enfrentar uma depreciação nos preços, o Brasil tende a se beneficiar.”
Além disso, Mariana Inocente P. Guimarães, gerente de exportação para a Ásia da Ramax Group, destaca que a carne bovina brasileira poderá se tornar uma alternativa ainda mais interessante para os consumidores chineses. Apesar de não competir diretamente com a carne americana, Guimarães acredita que a demanda pela carne bovina do Brasil aumentará. “Embora as carnes americanas e brasileiras atendam nichos de mercado diferentes, a diminuição na oferta dos EUA certamente impulsionará a procura pela carne brasileira na China”, afirma.
Vale lembrar que a carne brasileira é valorizada na China, onde é utilizada principalmente para a industrialização, ao contrário da americana, que é destinada ao catering. Com a expectativa de que a procura por outras proteínas, como porco e frango, cresça ainda mais, o mercado deve se aquecer. Guimarães observa: “A redução da oferta dos Estados Unidos vai gerar um aumento na venda desses produtos e, consequentemente, nos preços.”
Sobre o potencial de crescimento, Priscila Ziada acredita que setores como algodão, milho, soja e carnes têm grandes chances de expansão. “Esse fenômeno pode também resultar em uma diminuição dos custos de insumos em alguns segmentos, como na indústria da carne bovina e no frango”, assegura.
Entretanto, o setor pecuário brasileiro enfrenta desafios, como a qualificação dos animais para atender ao mercado chinês. A competição internacional é intensa, e o Brasil precisa ter bovinos com menos de 30 meses prontos para o abate. A especialista explica que as margens de lucro têm diminuído, complicando a situação dos produtores. Além disso, a redução do rebanho bovino, devido à conversão de pastagens para o cultivo de plantas mais lucrativas, tende a impactar ainda mais o setor.
“Hoje, é raro ver fazendas dedicadas à criação de bovinos, pois muitos optam por culturas que oferecem um retorno financeiro mais rápido”, aponta Guimarães. Atualmente, cerca de 30% da produção nacional de carne bovina é destinada à exportação, uma taxa que pode ser insuficiente para atender à crescente demanda.
No entanto, nem tudo são nuvens escuras. O setor de amendoim, por exemplo, está buscando expandir sua presença no mercado, mirando não apenas a China, mas também países como Canadá e México, que podem ser opções viáveis após a imposição de tarifas sobre produtos americanos. Rodrigo Chitarelli, CEO da CRAS Brasil, observa que, apesar das dificuldades do clima com períodos de seca, a expectativa é de uma supersafra de amendoim, impulsionada pelo aumento de 40% na área plantada. Essa realidade pode oferecer uma chance de negócios promissora para o Brasil.