Tecnologia

Tecnologia e Ganhos de Produtividade Reduzem Emprego no Agronegócio

2025-03-31

Autor: Mariana

Nos últimos dez anos, a agropecuária brasileira viu um crescimento médio de 3% ao ano, superando o aumento de apenas 0,86% da economia geral. Contudo, esse crescimento não se traduziu em mais empregos; pelo contrário, a ocupação no setor caiu 3% em 2024, registrando apenas 7,88 milhões de trabalhadores – o menor número desde 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este é o terceiro ano consecutivo de redução de postos de trabalho no campo, enquanto o mercado de trabalho nacional, em geral, teve um aumento de 2,6% no mesmo período.

Esse fenômeno reflete um modelo de agronegócio que prioriza tecnologia e eficiência produtiva. A automação e o uso de máquinas têm substituído trabalhadores menos qualificados, enquanto as atividades voltadas para o comércio internacional, como a soja e o milho, demandam mais capital e menos mão de obra.

Empresários do setor frequentemente relatam dificuldades em encontrar profissionais capacitados para gerenciar e operar as novas tecnologias nas propriedades. O perfil dos trabalhadores também mudou: há uma redução na participação de pessoas com baixa instrução e um aumento entre aqueles com escolaridade mais alta. Com o fortalecimento do mercado de trabalho em outras áreas, muitos trabalhadores menos qualificados optam por empregos com salários mais atraentes fora do campo.

Felippe Serigati, do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV, observa que a modernização tecnológica é fundamental para o crescimento do setor. Entretanto, isso gera uma tendência de "liberação de mão de obra", especialmente em tempos de margens reduzidas para os produtores. Entre 2022 e 2024, a produtividade do trabalho no campo cresceu 1,6%, enquanto a média geral da economia ficou em apenas 0,1%.

Nicole Rennó Castro, professora da Esalq/USP, ressalta que o emprego no campo está migrando para outras áreas relacionadas, como serviços de transporte e comercialização, além do aumento na geração de empregos na indústria de insumos. O Boletim Mercado de Trabalho do Agronegócio calcula que, em 2024, o total de trabalhadores no agronegócio atinge 28,424 milhões, com 10,3 milhões em serviços apoiando a agricultura e 8 milhões na agropecuária propriamente dita.

Apesar da diminuição de empregos na agropecuária, essa queda é compensada pelo crescimento de vagas em setores correlatos. Contudo, empresas que atuam em áreas emergentes, como bioinsumos e tecnologia agrícola, enfrentam desafios para encontrar mão de obra com a qualificação desejada. Profissionais com conhecimentos específicos sobre produtos biológicos, por exemplo, escasseiam no mercado.

A crescente demanda por qualificações superiores está elevando a média de renda no setor agrícola, que teve um aumento de 7,5% nos últimos quatro anos. No Centro-Oeste, a renda do setor até superou a da indústria, embora, em média, ainda seja abaixo de outros setores. Salários baixos e condições de trabalho insatisfatórias permanecem grandes obstáculos, levando muitos trabalhadores a buscar alternativas fora do campo, como empregos em aplicativos de transporte.

A reforma trabalhista também complicou a situação, ao eliminar compensações para deslocamentos e criando uma migração forçada de mão de obra para áreas urbanas. Tanto as cooperativas quanto as empresas enfrentam uma alta rotatividade de funcionários, com taxas de até 40% em setores como a suinocultura. Para mudar esse quadro, é necessário não apenas melhorar os salários, mas também oferecer melhores condições de trabalho, perspectivas de crescimento e um ambiente colaborativo.

Enquanto o agronegócio se moderniza e busca maior eficiência, a reinserção dos trabalhadores menos qualificados se torna um desafio crucial que envolve não só a educação formal, mas também o fortalecimento dos programas de capacitação profissional. O futuro do trabalhador rural depende dessa adaptação e da capacidade do setor em oferecer oportunidades dignas e bem remuneradas.