
Terapias Psicodélicas: O Lado Sombrio das Promessas
2025-04-01
Autor: Julia
Nos últimos anos, as terapias psicodélicas despertaram um grande interesse como possíveis tratamentos para diversos transtornos mentais. Substâncias como MDMA, psilocibina e LSD começaram a ser vistas como soluções milagrosas para problemas complexos como alcoolismo, depressão, ansiedade e até mesmo transtornos neuropsiquiátricos. No entanto, essa visão otimista parece ter suas limitações, pois não é incomum que resultados negativos surjam no campo das pesquisas clínicas.
Recentemente, um estudo realizado na Suíça revelou um resultado alarmante: a psilocibina, conhecido composto ativo dos cogumelos Psilocybe, não mostrou eficácia significativa na prevenção de recaídas em dependentes de álcool. A pesquisa, que foi publicada na revista eClinicalMedicine, envolveu 37 voluntários que haviam passado por um tratamento de abstinência. Os participantes receberam uma única dose de 25 mg de psilocibina ou um placebo, acompanhados de suporte psicoterapêutico. Infelizmente, os dados indicaram que não houve diferenças significativas na duração da abstinência entre os grupos após quatro semanas e seis meses.
Outro estudo negativo, também originário da Suíça, foi conduzido na Universidade de Basileia, em parceria com a Universidade de Maastricht, na Holanda. Nesse caso, 53 voluntários participaram de uma investigação sobre o uso de microdoses de LSD, apenas 20 microgramas, para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Após seis semanas de tratamento, resultados mostraram redução nos sintomas de TDAH, mas, novamente, sem diferenças estatísticas significativas entre os grupos que receberam o LSD e o placebo. Os pesquisadores se mostraram preocupados e ressaltaram a importância de ensaios controlados na pesquisa sobre microdosagem.
Esses contratempos são ainda mais alarmantes quando consideramos recentemente a abordagem da FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA) sobre a psicoterapia com MDMA para o tratamento do transtorno de estresse pós-traumático, que também enfrentou dificuldades na aceitação por falta de evidências robustas.
E as notícias não param por aí! A próxima promessa em teste é a psilocibina para tratamento da depressão, com dois importantes ensaios clínicos de fase 3 em andamento, um dos quais é liderado pela empresa Compass Pathways. No entanto, a situação da Compass revelou-se problemática em um estudo de fase 2, onde as análises indicaram limitações significativas que podem comprometer as esperanças depositadas nessa abordagem. Com 233 participantes, um dos maiores estudos já realizados com psicodélicos, os resultados mostraram um tempo encorajador até o primeiro episódio depressivo, mas a diferença entre os grupos de dosagem de 25mg e 10mg não foi tão distinta, levantando preocupações sobre a validade dos dados.
Enquanto o potencial terapêutico das substâncias psicodélicas ainda gera debates acalorados, é crucial lembrar que a ciência avança por meio de ensaios rigorosos e evidências concretas. A esperança de que terapias psicodélicas possam ser uma solução viável para transtornos mentais persiste, mas a realidade dos resultados negativos sublinha a necessidade de cautela e uma abordagem bem-informada.