Um desastre sem precedentes: como o terremoto em Mianmar arrasou a "cidade dourada" dos budistas

Em um evento trágico, Mandalay, antes reconhecida como a "cidade dourada" por seus pagodes brilhantes e rica cultura budista, enfrenta agora uma devastação inimaginável após um terremoto de magnitude 7,7 que atingiu a região na última sexta-feira. O ar que antes era preenchido com orações e incenso agora é maculado pelo cheiro de destruição e tragédia.

As autoridades relataram que a contagem de mortos superou 2.700, com 4.521 feridos e um número ainda indeterminado de desaparecidos. Com cada hora que passa, as esperanças de encontrar sobreviventes diminuem. Os moradores da segunda maior cidade do país, após Rangoon, enfrentam noites sem dormir, vagando pelas ruas à procura de amigos e familiares desaparecidos, enquanto os suprimentos de comida e água se tornaram escassos.

Uma das testemunhas, identificada apenas como J, perdeu sua tia no desastre. Ela relata que o corpo foi retirado dos escombros dois dias após o terremoto, refletindo a ineficiência e a dificuldade das operações de resgate. Infelizmente, a infraestrutura precária e os conflitos civis em curso dificultam ainda mais o auxílio humanitário. A falta de recursos básicos, como tendas, comida e água potável, tem sido alarmante.

O impacto psicológico do desastre também é um aspecto preocupante, especialmente para crianças que testemunharam a destruição. Um pai local compartilhou que seu filho de oito anos ficou traumatizado, chorando frequentemente após ser exposto à devastação de seu bairro. Essa dor emocional se tornará uma marca permanente para muitos.

As dificuldades para a recuperação foram exacerbadas pela pressão sobre os crematórios, que lotaram rapidamente. As famílias foram forçadas a lidar com a perda de entes queridos de maneiras que mal podem imaginar. O número de vítimas pode ser ainda mais elevado do que os dados oficiais, com especialistas sugerindo que a mortalidade poderia ultrapassar 10.000, dadas as circunstâncias e o tamanho do terremoto.

Mandalay, que já foi um próspero centro de produção de folhas de ouro e destino turístico, agora enfrenta um futuro incerto. A pobreza anteriormente crescente na cidade se intensificou, e a situação só piora com a falta de um sistema de apoio eficaz devido à instabilidade política que Mianmar enfrenta desde o golpe militar de 2021.

O terremoto também teve repercussões nas regiões vizinhas, como Tailândia e China, mas a devastação em Mianmar é particularmente severa. Como parte de uma resposta nacional, um minuto de silêncio foi realizado na última terça-feira em homenagem às vítimas, e o regime militar ordenou que as bandeiras fossem colocadas a meio mastro, convocando uma semana de luto.

Além disso, a comunidade internacional, incluindo países como Rússia e China, iniciou a oferta de assistência, mas a entrega de ajuda humanitária tem sido lenta e repleta de obstáculos. Testemunhas afirmam que as equipes de resgate, apesar de trabalharem incansavelmente, estão exaustas e sobrecarregadas com a magnitude da tarefa à frente.

"Precisamos que a junta militar mude sua abordagem e permita que a ajuda chegue a quem mais precisa. A vida de milhares de pessoas depende disso,” afirmou um defensor dos direitos humanos.

O futuro de Mandalay e de seus cidadãos é incerto, mas a resiliência e a solidariedade podem ser a chave para a recuperação em meio ao desespero. Este desastre serve como um alerta para a urgência em melhorar a infraestrutura e a preparação para emergências em Mianmar, um país que já enfrenta tantos desafios.