Em uma noite de Ano Novo marcada por tragédia, um motorista atacou uma multidão em Nova Orleans, resultando em 15 mortos. Horas após o incidente, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, associou o ato de terrorismo à imigração irregular, apesar de o motorista ser um cidadão americano.

Trump, em sua plataforma Truth Social, afirmou: "Quando eu disse que os criminosos que estão chegando são piores do que os criminosos que temos em nosso país, essa declaração foi refutada pela mídia e pelos democratas, mas acabou sendo verdade". Essa afirmação, além de imprecisa, revive um discurso anti-imigração que já foi amplamente contestado por especialistas.

Os dados oficiais, como os do FBI, indicam que menos de 1% dos imigrantes detidos possuíam antecedentes criminais. Mais do que isso, as cidades que recebem o maior número de imigrantes geralmente apresentam taxas de criminalidade mais baixas. Estudos do Conselho Americano de Imigração foram contundentes ao afirmar que "não apenas não há uma onda de crimes entre migrantes como também não há uma onda de crimes em geral".

O suspeito do ataque, identificado como Shamsud-Din Jabbar, é um ex-membro do Exército dos EUA e seu histórico criminal não foi revelado pelas autoridades. O FBI destacou que o ataque não tem relação com imigração.

Em seu discurso, Trump reforçou sua narrativa de que o país enfrenta uma onda de violência sem precedentes e que isso justifica ações drásticas, como a deportação em massa de imigrantes. Ele prometeu essa medida durante a Convenção Nacional Republicana e, novamente, em suas postagens nas redes sociais, desconsiderando dados recentes que mostram a queda nos índices de criminalidade no país.

Estatísticas do FBI de setembro de 2023 indicaram uma queda de 3% nos crimes violentos em relação ao ano anterior, com homicídios caindo em 11,6% e agressões em 2,8%. Esses números contradizem abertamente a narrativa de uma crescente violência, que tem sido um fator importante na estratégia política de Trump.

A polarização em torno do tema da imigração e crime, exacerbada por tragédias como a de Nova Orleans, continua a ser uma intricada parte do discurso político americano. O uso de eventos trágicos para reforçar ideologias controversas levanta não apenas questões sobre a responsabilidade dos líderes, mas também sobre a forma como as políticas públicas são moldadas por narrativas baseadas em medo.