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Trump e a Revolta Contra Universidades: O Oposição ao Prestige Inacessível

2025-03-28

Autor: João

Todo ano, cerca de US$ 250 bilhões do orçamento federal dos Estados Unidos são direcionados para a educação superior. Para se ter uma ideia, isso equivale a 80 vezes o orçamento total das universidades brasileiras como USP, Unicamp e Unesp juntas. Esse valor não inclui as generosas doações de ex-alunos, estimativas de receita privada e altas mensalidades que as instituições cobram, resultando em contas bancárias recheadas para as universidades de ponta. Apesar dessa injeção federal, que representa apenas 15% do total, a situação das universidades se complica.

Diferente das instituições brasileiras, que têm uma composição majoritariamente monolíngue, as universidades americanas atraem estudantes de todo o mundo dispostos a arcar com mensalidades altíssimas. Até mesmo as universidades públicas nos EUA têm o costume de cobrar anuidades, sendo que somente alunos de baixa renda ou de desempenho excepcional conseguem bolsas.

No contexto americano, 40% da população com mais de 25 anos possui diploma universitário, em comparação com apenas 18% no Brasil. Embora cerca de 60% dos jovens americanos ingressem em universidades, a competitividade e os requisitos para entrar nas melhores instituições se tornaram quase intransponíveis, especialmente para aqueles que não pertencem à elite financeira. Entre 2006 e 2018, a taxa de aceitação nas 50 melhores universidades dos Estados Unidos caiu em impressionantes 36%.

Meritocracia e Exclusividade

Com todo esse dinheiro disponível, muitos esperariam que as universidades investissem em inclusão, aumentando o número de turmas e a capacidade de acolhimento. Porém, a realidade é bem diferente: as anuidades crescem muito acima da inflação enquanto o número de alunos selecionados diminui, enquanto o número de candidatos em busca de uma vaga, oriundos de diferentes partes do mundo, só aumenta.

Dados da US News and World Report indicam que, nos últimos 20 anos, as anuidades aumentaram em média 41% acima da inflação, o que se traduz em um crescimento de 126% em termos absolutos. Mesmo nas universidades públicas, a anuidade subiu 32% acima da inflação. Por exemplo, a Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) cobra em média US$ 68 mil por ano para alunos de fora do estado, enquanto os alunos locais pagam US$ 13.500. Com despesas adicionais como moradia e materiais didáticos, o total salta para cerca de US$ 38 mil – um aumento vertiginoso comparado aos US$ 1.780 de 1990, ajustados para a inflação.

A situação é ainda mais alarmante em instituições renomadas como Harvard e Yale, onde os custos também cresceram descontroladamente. De um passado em que a universidade era vista como um vetor de mobilidade social, agora se tornou um sistema elitista, onde poucos conseguem escalar os degraus da educação superior.

A instigante questão é: por que, em um ambiente onde esses altos custos são prevalentes, o foco das universidades parece estar mais na retórica progressista do que em ações concretas de mudança? Muitas vezes, as críticas à inclusão e à meritocracia vêm de indivíduos que estão imersos em um ciclo de privilégios. O economista Scott Galloway, da NYU, comparou as universidades americanas a marcas de luxo, enfatizando o desejo das instituições de parecerem cada vez mais inacessíveis.

O que desagrada a população, frequentemente, são as questões que ocupam o espaço das preocupações com o dia a dia. O que realmente irrita muitos é a preocupação de acertar o pronome de um aluno não binário ou as pressões para cancelar palestras com opiniões divergentes, enquanto temas como a acessibilidade econômica permanecem em segundo plano.

Trump e a sua nova era de descontentamento podem parecer, para alguns, um reflexo do sentimento coletivo de pessoas que acreditam que o dinheiro público poderia ser melhor utilizado se não fosse para sustentar estilos de vida luxuosos dentro das universidades.

Essa tensão entre a retórica inclusiva e a realidade da elitização universitária pode levar a um retrocesso na educação. Nos Estados Unidos, as universidades foram fundadas antes mesmo da formalização do governo federal, diferente do Brasil, onde a educação superior tornou-se realidade apenas no século XX. A colaboração entre o governo e as universidades cresceu principalmente após a Segunda Guerra Mundial, privilegiando pesquisas que beneficiaram tanto a academia quanto a sociedade.

A ascensão de Trump 2, que é considerado ainda mais extremista que sua versão anterior, traz consigo um novo ciclo de discórdia. Enquanto muitos se concentram no populismo, há uma necessidade urgente de reconhecer que as tendências elitistas das universidades, muitas vezes copiadas da América, também podem chegar ao Brasil, causando reações adversas na população.

Em suma, a universidade que deveria ser um espaço de inclusão e crescimento se transformou em uma fortaleza de privilégios. O dilema que surge agora requer uma reflexão crítica sobre como a educação superior pode se conectar com uma sociedade que, por muitos anos, se sentiu alienada e desconsiderada.