Ciência

Turismo Sustentável na Amazônia: Desafios da Crise Climática e Caminhos para o Futuro

2025-01-12

Autor: Mariana

No início de dezembro em Manaus, o calor é opressivo. O Amazonas está enfrentando sua pior seca da história, com os níveis dos rios em queda livre, uma cena nunca antes vista. No trajeto de lancha até o espetacular encontro dos rios Negro e Solimões, o guia aponta para o horizonte, onde partes do continente e de ilhas, que normalmente estariam submersas, se tornaram visíveis devido à estiagem.

Toda a região é impactada social e economicamente pela seca, e o turismo, uma das principais fontes de sustento de muitas famílias, é um dos setores mais afetados. A escassez de atividades atrai menos visitantes e prejudica a renda local. Rodrigo Amorim, um experiente guia turístico, relata que os ribeirinhos estão passando por dificuldades, especialmente aqueles que dependem do turismo, como os que oferecem experiências de pesca do pirarucu e refeições típicas.

Com o calor intenso, a pesca de jacarés, uma atividade popular entre turistas, se torna quase impossível, o que afeta diretamente o transporte fluvial, já que muitos pontos turísticos não estão navegáveis.

O cansaço é evidente no rosto de Daniel Hanrori, um indígena Tukano de uma aldeia próxima ao Lago Janauari. Durante os meses de seca, muitos membros da aldeia são forçados a se deslocar para um acampamento temporário, onde sobrevivem com o que podem para receber os poucos turistas que ainda visitam a área. A necessidade de renda é urgente, e mesmo com a ameaça de tempestades e ventanias violentas, eles não podem parar de trabalhar.

"Quando o rio está cheio, recebemos de 50 a 60 lanchas por dia. Agora, recebemos apenas duas. A situação afeta profundamente não só o turismo, mas também a pesca, que está escassa e em alguns lugares os peixes simplesmente desapareceram", lamenta Hanrori.

A crise climática é uma realidade inegável, e o turismo na Amazônia gira em torno da saúde dos rios. As alterações climáticas de 2024 pioraram as condições para um dos passeios mais icônicos da região: a visualização do encontro das águas. A famosa mistura do rio Solimões com o Negro, que atraía milhares de visitantes, está comprometida.

O impacto também se estende a locais como a Praia de Ponta Negra, em Manaus, que teve de ser fechada, e o Museu do Seringal, que ficou temporariamente inacessível devido à baixa do nível do Rio Negro. Em Alter do Chão, a tradicional alta temporada de turismo teve que ser cancelada por falta de infraestrutura nas embarcações que levam turistas a ilhas e festivais locais, que são essenciais para o turismo da região.

A professora Isabel Grimm, especialista em meio ambiente, ressalta que a crise climática não deve ser vista apenas como uma consequência, mas também como um problema gerado pela atuação irresponsável do setor turístico. "Precisamos repensar o turismo de massa e adotar práticas que reduzam os impactos ambientais e promovam a conservação dos ecossistemas", afirma.

Uma alternativa emergente é o turismo de base comunitária, que se mostra promissor na região. A 600 km a oeste de Manaus, o Instituto Mamirauá tem trabalhado desde 1998 para desenvolver o turismo de forma sustentável. Os viajantes que visitam a Pousada Uacari desfrutam de uma experiência autêntica e imersiva, enquanto as comunidades locais são beneficiadas economicamente e têm a oportunidade de participar ativamente da gestão do turismo.

Pedro Nassar, coordenador do programa, afirma que o turismo comunitário é diferente do turismo de massa. Ele garante que a participação local é fundamental e que os benefícios econômicos devem ser compartilhados, preservando a cultura e o meio ambiente.

Histórias como a de Ilana Ribeiro Cardoso, uma artesã quilombola, também refletem a importância do turismo consciente. Ilana promove sua comunidade em Mateiros, Tocantins, garantindo que as visitas dos turistas sejam respeitosas e sustentáveis. "O turismo precisa vir de baixo, não de cima. Quem conhece e se importa com a terra são as comunidades", diz ela.

Por fim, a reportagem ressalta que o turismo sustentável não apenas preserva a biodiversidade da Amazônia, mas também potencializa o futuro das comunidades que dependem dessa floresta rica em recursos. A conscientização, o respeito e a integração das comunidades são essenciais para um turismo que beneficie a todos, minimizando os impactos negativos e promovendo um desenvolvimento sustentável para a região.