Introdução

A Rússia anunciou que pretende lançar vacinas contra o câncer até 2025, com a utilização da tecnologia de RNA mensageiro (RNAm), a mesma que provou ser eficaz nas vacinas contra a Covid-19 da Pfizer/BioNTech e da Moderna. No entanto, a ausência de informações claras sobre os estudos levanta sérias preocupações entre especialistas da área.

Falta de Transparência

Veronika Skvortsova, diretora da Agência Federal de Medicina e Biologia da Rússia, afirmou que mais de três anos foram gastos em testes, mas os detalhes sobre os tipos de câncer que serão abrangidos pela vacina ainda não foram divulgados. A falta de transparência se torna um tema central, especialmente sobre se essas vacinas serão definitivamente oferecidas como tratamentos ou se ainda estarão em fase de testes clínicos em humanos.

Opinião de Especialistas

Maria Ignez Braghiroli, oncologista clínica e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, comentou que a situação é preocupante, afirmando: “É fundamental que entendamos como esses procedimentos serão realizados e que haja um planejamento claro para estudos com pacientes.”

Desenvolvimento de Vacinas

Historicamente, o desenvolvimento de vacinas e medicamentos requer várias etapas rigorosas para garantir a segurança e eficácia. O processo inclui testes pré-clínicos em animais e, posteriormente, pelo menos três fases de estudos clínicos em humanos, cujos resultados costumam ser publicados em revistas científicas para garantir a confiabilidade.

Próximos Passos na Rússia

O Ministro da Saúde da Rússia, Mikhail Murashko, mencionou que os testes pré-clínicos estavam programados para serem concluídos neste ano, com a expectativa de obter resultados até o final de 2023 e iniciar rapidamente os testes clínicos.

Tipos de Câncer Focados

Quando a criação da vacina foi anunciada, em abril, os pesquisadores citaram o foco em tipos de câncer como melanoma e glioblastomas. A vacina foi desenvolvida por equipes de respeitados institutos russos, incluindo o Centro Nacional de Pesquisa em Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya.

Resultados Promissores

Alexander Gintsburg, diretor do Gamaleya, afirmou que os ensaios pré-clínicos mostraram resultados promissores em relação à supressão do crescimento tumoral. Embora tenha sido declarado que os experimentos com adenocarcinoma intestinal, uma forma agressiva de câncer colorretal, apresentaram uma redução significativa nos tumores, nenhuma publicação sobre esses dados ainda foi disponibilizada ao público.

Vacinas Terapêuticas de RNAm

As vacinas terapêuticas de RNAm estão na vanguarda das pesquisas contra o câncer. Essas vacinas atuam preparando o sistema imunológico para reconhecer o tumor, diferentemente das vacinas tradicionais que visam doenças infecciosas. A tecnologia de RNAm, em vez de injetar diretamente a proteína da célula cancerosa, fornece ao corpo as instruções para que ele mesmo produza a proteína que irá estimular a resposta imune.

Avanços em Outras Empresas

Outros laboratórios estão realizando avanços notáveis nesse campo. A empresa Moderna, em parceria com a MSD, está em estágios avançados de desenvolvimento de vacinas contra o melanoma e apresentou resultados que indicam uma redução considerável no risco de morte ou recorrência de câncer em estudos clínicos. A BioNTech, famosa por sua vacina contra Covid-19, também está explorando vacinas que visam diversos tipos de câncer.

Iniciativas no Brasil

No Brasil, a Fiocruz iniciou um projeto paralelo de uma vacina de RNA mensageiro para o tratamento do câncer, que foi suspenso devido à pandemia, mas agora está sendo retomado, focando inicialmente em tipos de câncer de mama. O futuro das vacinas contra o câncer está se desenhando como uma revolução na medicina, mas a necessidade de transparência e rigor científico permanece fundamental.