Você sabia que a esquizofrenia e o TOC podem coexistir? Entenda essa condição complexa!
2024-12-04
Autor: Mariana
No recente 41º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado em outubro, um tema intrigante foi apresentado: o esquizoTOC, uma combinação de esquizofrenia e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Essa condição desafia psiquiatras, pois os sintomas de ambos os transtornos podem surgir simultaneamente, complicando o diagnóstico e o tratamento.
Desafios no Diagnóstico
Historicamente, o reconhecimento de esquizoTOC tem sido discutido, mas há uma carência de estudos que elucidem como os médicos podem diferenciar e tratar essas condições de forma eficaz. O DSM-5 e a CID, embora úteis, não fornecem orientações claras para distinguir entre os transtornos dentro do espectro do esquizoTOC. Para muitos médicos, tentar encaixar a complexidade de cada paciente em critérios restritos é quase impossível.
A visão é de que não se trata apenas de duas condições distintas que se manifestam juntas, mas sim de uma única alteração que se apresenta de maneiras diferentes. Essa opinião é compartilhada por experts como Ary Gadelha, psiquiatra e coordenador de programas na Escola Paulista de Medicina.
Genética e Hereditariedade
Estudos recentes têm revelado uma maior correlação genética entre esquizofrenia e TOC do que entre esquizofrenia e outros transtornos mentais. Por exemplo, indivíduos com TOC apresentam um risco significativamente maior de desenvolver esquizofrenia. Dados apontam que 18,5% das pessoas com esquizofrenia também têm TOC, enquanto 5,5% podem apresentar sintomas do TOC. Além disso, a relação familiar entre os dois transtornos deixa claro que tanto fatores genéticos quanto ambientais desempenham papéis cruciais, como discutido por Marcelo Queiroz Hoexter, do Instituto de Psiquiatria da USP.
Circuitos Cerebrais Compartilhados
As pesquisas também indicam que transtornos como o TOC e a esquizofrenia compartilham circuitos cerebrais, o que poderia explicar a sobreposição de sintomas. No entanto, o tratamento para essas condições é bastante similar: os casos de psicose são tratados com antipsicóticos, e frequentemente antidepressivos são adicionados durante crises que envolvem humor alterado, depressão e ansiedade. Já o TOC é tratado primariamente com antidepressivos, mas a combinação com antipsicóticos pode potencializar os resultados.
Como Realizar o Diagnóstico
O primeiro passo no diagnóstico envolve uma anamnese cuidadosa, onde o médico investiga a história do paciente, a duração e a evolução dos sintomas. Isso permite distinguir se os sintomas obsessivos-compulsivos se relacionam ao TOC ou são devidos a delírios que não se baseiam na realidade.
Espelhos no cotidiano dos pacientes com esquizoTOC revelam:
- Mais intensidade nos sintomas;
- Níveis elevados de ansiedade e depressão;
- Maior dano cognitivo;
- Resistência ao tratamento e, frequentemente,
- Prognóstico mais desfavorável.
Porém, segundo Hoexter, a falta de compreensão sobre essa condição única dificulta o tratamento adequado e eficiente. "Embora tenhamos avançado em algumas áreas, as novas estratégias terapêuticas são ainda limitadas", lamenta.
Situações de EsquizoTOC
Estudos classificam três contextos principais onde o esquizoTOC pode ocorrer:
1. TOC que evolui para esquizofrenia;
2. TOC com baixo insight, onde o paciente não consegue reconhecer a natureza ilusória de suas obsessões;
3. Esquizofrenia que apresenta TOC ou sintomas obsessivos-compulsivos.
A prevalência de TOC em esquizofrênicos alcança 15%, enquanto sintomas obsessivos podem chegar a 26%. Esses dados sugerem que a progressão da esquizofrenia influencia a manifestação de sintomas obsessivos.
Tratamento e Abordagens
O tratamento do esquizoTOC, sem dúvida, é uma tarefa complexa. Além de se basear em antipsicóticos e antidepressivos, deve-se estar atento às interações medicamentosas e efeitos colaterais. A educação do paciente sobre sua condição é fundamental, assim como o envolvimento da família no processo terapêutico. A terapia cognitivo-comportamental se mostra como uma excelente aliada.
Em casos onde o paciente apresenta sintomas residuals que não afetam significativamente seu cotidiano, adotar uma abordagem conservadora em relação ao tratamento pode ser mais benéfico, já que o tratamento intensivo pode não se justificar frente ao custo-benefício.
A crescente compreensão sobre o esquizoTOC nos convida a refletir sobre a importância de diagnósticos precoces e a consideração da complexidade dos transtornos mentais. Em um mundo onde o estigma ainda persiste, a conscientização e o apoio à saúde mental se tornam mais essenciais do que nunca!