Negócios

A Crescente Preocupação com a 'Inflação da Picanha': O Que Isso Significa Para os Brasileiros e Para Lula?

2024-11-26

Autor: Maria

Em outubro, o preço da carne experimentou um dos maiores aumentos para o mês nos últimos quatro anos, deixando muitos brasileiros apreensivos — principalmente os que dependem dessa compra para suas refeições diárias.

Na Zona Oeste de São Paulo, a feirante Rose Tragl, de 47 anos, compartilha sua preocupação. “Aquele filé de costela era para custar R$ 79,90 o quilo, mas mantivemos em R$ 69,90 para não perder o cliente”, relata. Para ela, a decisão de absorver parte do aumento de custos foi uma forma de fidelizar os consumidores, mesmo que isso resulte em menores lucros.

Os dados mais recentes mostram que o preço da carne subiu 7,54%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que revelou uma inflação acumulada de 4,77% nos últimos 12 meses, impulsionada por alimentos e tarifas de energia elétrica.

Essa alta nos preços obriga os brasileiros a ajustarem seus hábitos alimentares, especialmente com a chegada das festas de fim de ano. Altos preços de alimentos, como a carne, geram preocupações que vão além do orçamento doméstico, afetando até mesmo a popularidade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente volta ao governo prometendo melhorias econômicas e a esperada “volta da picanha na mesa do brasileiro”, mas os números atuais colocam tal promessa em xeque.

Mas o que está por trás do aumento dos preços da carne? Segundo o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), dois fatores principais estão por trás da elevação: as condições climáticas adversas e a valorização do dólar. Este ano, secas severas e incêndios em regiões como a Amazônia e o Pantanal diminuíram a disponibilidade de pastagens e aumentaram os custos de produção.

Internacionalmente, a demanda pela carne brasileira aumentou, com uma valorização de 30% nas exportações entre janeiro e outubro, tornando o produto ainda mais atrativo no exterior. No cenário interno, a economia aquecida também impulsionou o consumo, sendo que 75% da produção de carne é destinada ao consumo doméstico.

Infelizmente, essa inflação periférica não é um problema isolado. Outros produtos essenciais, como leite, tomate e óleo de soja, também aumentaram de preço substancialmente. A laranja-lima teve um aumento de 25%, enquanto o tomate subiu 8,15% e o óleo de soja 8,38%. Essa crise alimentar atinge de forma desproporcional as famílias de baixa renda, que destinam uma maior parte de seu orçamento para alimentos e contas de serviços públicos. Enquanto a inflação para os mais pobres chegou a 4,99%, os mais ricos experimentaram uma inflação de 4,44%.

Para os especialistas, as expectativas para 2025 não são animadoras. A inflação pode continuar pressurizando os brasileiros e, à medida que a economia americana evolui sob a gestão de Donald Trump, isso pode impactar negativamente o cenário econômico global. Existe a expectativa de que, mesmo no primeiro trimestre de 2025, os preços da carne possam se manter elevados e a inflação continue a ser uma preocupação constante.

Nesse contexto, o governo Lula enfrenta um desafio delicado. Com um cenário inflacionário crescente e promessas de um “churrasco de picanha e cerveja”, a administração terá que tomar decisões difíceis para manter a confiança da população, que parece cada vez mais distante do que julgavam ser um futuro econômico mais promissor.