O restauro dos mercados históricos na Síria, conhecidos como souks, representa um marco significativo para um país que enfrenta a dura realidade de sua divisão interna. Com o território sírio ainda dividido entre o governo central de Damasco e a república autônoma no nordeste, o revitalização do centro histórico de uma das cidades mais antigas, Aleppo, surge como um símbolo da busca por recuperar a vida e a estabilidade na região.

Quinze anos atrás, a Síria desfrutava de um crescimento turístico notável. Em 2010, o país recebeu impressionantes 8,5 milhões de visitantes, refletindo um aumento de 40% em relação ao ano anterior. A cidade antiga de Aleppo, que foi classificada como patrimônio cultural da UNESCO em 1986, atraía diariamente milhares de turistas, que se encantavam com sua rica herança comercial datada de 4 mil anos.

Localizada em uma encruzilhada de rotas comerciais históricas, Aleppo foi governada por diversas civilizações, incluindo hititas, assírios, romanos e otomanos, cada um deles deixando sua marca na cultura e arquitetura local. A cidade abriga a imponente Cidadela de Aleppo, que testemunha a força militar árabe entre os séculos 12 e 14.

Com uma rica história que remonta a 10.000 anos atrás, a cidade é um retrato da evolução arquitetônica, que inclui desde as ruas greco-romanas até mesquitas e palácios da era dos aiúbidas e mamelucos. No entanto, em 2011, essa herança cultural enfrentou uma grave ameaça com o início da guerra civil, a mais longa e mortífera do século XXI.

Iniciada com protestos em Aleppo contra a tirania da família Al-Assad, a guerra rapidamente escalou em um conflito violento que devastou o centro histórico da cidade e forçou muitos a se tornarem refugiados. O drama de Aleppo culminou em uma luta feroz entre as forças do governo e as forças rebeldes, transformando o centro da cidade em uma zona de guerra.

Apesar de os horrores da guerra ainda serem presentes, com mais de 500 mil mortos e milhões de deslocados, a revitalização dos souks de Aleppo traz um fio de esperança. Vendedores locais, como Omar al-Rawwas, notaram uma recente melhora na situação com o retorno dos clientes, destacando que a redescoberta dos negócios é um passo vital para a reconstrução. Omar declarou: "Quando as pessoas voltaram para casa e encontraram seus tapetes danificados, vieram até nós em busca de novas peças. Parece que a loja recuperou sua alma!"

Outro vendedor expressou seu otimismo: "Estamos determinados a reconstruir esta cidade com nossas próprias mãos, e ela voltará ainda mais bela do que antes."

A ancestralidade de Aleppo, longe de ser uma maldição, se torna um testemunho de sua resiliência. Já enfrentou invasões, guerras e massacres, provando sua capacidade de superar desafios ao longo dos séculos. A atual onda de restauração pode ser apenas um novo capítulo na longa história desta emblemática cidade, que resistiu a tantas adversidades.

Enquanto as conversas de revitalização continuam, a comunidade internacional observa atentamente. O futuro dos souks de Aleppo poderá não apenas restaurar a economia local, mas também fortalecer a identidade cultural e social da Síria, tornando-se um farol de esperança para todo o Oriente Médio.