A Volta Triunfal de Trump: Richard Wolff Revela os Segredos por Trás do Sucesso
2024-11-23
Autor: Julia
Em uma análise instigante das recentes eleições presidenciais norte-americanas, o economista Richard Wolff trouxe à tona os fatores econômicos, sociais e políticos que possibilitaram a surpreendente volta de Donald Trump ao poder. Durante sua palestra para a Democracy at Work e o Left Forum, intitulada "Capitalismo Global: As Eleições nos EUA e Trump 2.0 em uma Perspectiva Histórica", Wolff expôs como práticas continuadas ignoram os desafios estruturais que o país enfrenta.
Segundo Wolff, "os dois principais partidos atuam como cúmplices na preservação do sistema capitalista, evitando debates essenciais sobre desigualdade e instabilidade". Ele criticou a estrutura política dos Estados Unidos, que limita as opções eleitorais a apenas dois grandes partidos — Republicano e Democrata. "Apesar do alarde sobre a liberdade de escolha, o que se vê na prática é uma limitação severa nas eleições. Ambos os partidos esforçam-se para manter o status quo econômico sem criticar a estrutura capitalista ou o bipartidarismo", enfatizou.
Essa dinâmica se reflete na campanha de Trump, que, apesar de se apresentar como um outsider, se mantenha dentro dos moldes tradicionais ao responsabilizar os democratas pelos problemas econômicos, como inflação e aumento dos custos habitacionais. De acordo com Wolff, "a estratégia republicana sempre foi culpar o partido adversário. Tudo o que vai mal é 'culpa dos democratas' — e Trump utilizou essa tática de forma incisiva."
As Raízes da Vitória de Trump
Wolff observou que a reeleição de Trump foi respaldada por grupos tradicionais, como evangélicos, moradores das zonas rurais, defensores de armas e comunidades militares, mas também por novos apoiadores. A imagem de Trump como um político "fora do sistema" cativou trabalhadores desiludidos após décadas de estagnação salarial e precarização do trabalho. "Trump prometeu ser o defensor da classe trabalhadora, mas na prática não apresentou soluções efetivas, apenas discursos vazios e promessas impraticáveis", analisou. Um exemplo disso foi sua defesa de tarifas sobre importações, que, segundo Wolff, são contraditórias e inflacionárias, prejudicando os próprios consumidores.
A Negação como tática
Wolff denunciou que tanto Trump quanto sua adversária, Kamala Harris, evitaram tocar nos problemas mais profundos da sociedade americana, o que ele chamou de "negação coletiva". "As questões de extrema desigualdade de renda, instabilidade econômica e o declínio do império americano são ignoradas por ambos os partidos. O sistema político escolhe ignorar essas realidades em vez de abordá-las diretamente, preferindo distrações e a culpabilização de terceiros", afirmou.
Além disso, ele criticou a falta de discussões sobre as recentes derrotas militares dos EUA e o impacto do declínio imperial no cenário global. Essa negação, segundo ele, cria barreiras para que os Estados Unidos enfrentem adequadamente os desafios sociais e econômicos que afetam a maioria da população.
Um Futuro Incerto
A análise de Wolff culmina em uma reflexão preocupante: "A eleição de Trump não resolve os problemas fundamentais dos Estados Unidos. As promessas feitas durante a campanha, como construção de muros e deportação em massa de imigrantes, são incoerentes economicamente e divisivas socialmente. O verdadeiro problema é o capitalismo, que nenhum dos dois partidos tem coragem de confrontar".
Com um sistema político incapaz de confrontar as crises estruturais, a perspectiva para os próximos anos é de mais polarização, desigualdade e instabilidade. Para Wolff, um futuro diferente depende de uma drástica mudança na abordagem política e econômica dos EUA — algo que, por enquanto, parece estar fora de alcance. Enquanto isso, a tensão nas ruas e as divisões sociais continuam a crescer, levando muitos a se perguntar: será que alguém realmente pode mudar este cenário?