
Abstenção de álcool: uma nova perspectiva sobre saúde e bem-estar?
2025-03-18
Autor: Gabriel
A história da abstenção de álcool não é recente, mas a atenção que recebe atualmente revela uma mudança significativa de foco. Há cem anos, a Lei Seca (1920-1933) nos Estados Unidos determinou uma era de proibição que se originou a partir da moralidade e dos esforços dos protestantes em reduzir o consumo de bebidas alcoólicas. Hoje, embora a bebida seja completamente legal, o número de adeptos da sobriedade continua a crescer, refletindo uma tendência global.
Se, na década de 1920, os speakeasies—bares clandestinos—dominavam a cena social, hoje os mocktails—coquetéis sem álcool—estão em alta. Esse novo padrão de consumo entre os jovens é impulsionado por preocupações com a saúde, com estudos recentes indicando que não há uma quantia segura de álcool que se possa consumir. Iniciativas como o Dry January, onde as pessoas se comprometem a não beber durante o mês de janeiro, têm ganhado força nas redes sociais, enfatizando uma mudança nas prioridades.
Rod Phillips, crítico gastronômico e autor de "Alcohol: A History", ressalta que o álcool foi fundamental na vida social europeia por séculos, especialmente entre as classes mais abastadas. Ele explica que, no passado, a percepção de que todos estavam consumindo álcool era enganadora; na verdade, muitas pessoas não tinham condições financeiras para isso. Muitas mulheres e crianças, em particular, eram quase sempre excluídas do consumo.
Com o passar dos anos, o consumo de álcool se tornou mais acessível e acabou sendo recomendado como benéfico à saúde. Phillips recorda que, no passado, o vinho era considerado essencial para um coração saudável, e até mesmo as bebidas destiladas eram vistas como benéficas.
A industrialização das bebidas alcoólicas e a diminuição de seus preços permitiram que o álcool atingisse novos públicos, especialmente trabalhadores urbanos. O movimento pela temperança desafiou essas normas, com o historiador Chris Finan, autor de "Drunks: an American History", argumentando que a abstinência era vista como uma maneira de viver uma vida mais digna e próxima de Deus.
Embora a conexão do movimento com a religião fosse um fator importante, não era universal. Os católicos não se engajaram da mesma forma que os protestantes, o que se refletiu em nações que aboliram leis secas, como Canadá, Finlândia e Noruega. Aqueles que defendiam os direitos das mulheres na época também apoiavam a abstinência, argumentando que o álcool era responsável por situações de violência e desordem familiar.
A Lei Seca nos EUA foi implementada juntamente com a conquista do voto feminino, um momento de grande transformação social. Contudo, essa popularidade da abstinência não significava que todos os que adotavam esse estilo de vida tivessem problemas com álcool; na verdade, muitos não bebiam, e a adoção da temperança não era vista como um grande sacrifício. O problema real do alcoolismo continuou a ser ignorado até que, nos anos 1840, começou a haver um movimento para reconhecer o alcoolismo como uma doença.
O grupo Washingtonian foi um marco nesse sentido, inspirando outros a compartilhar suas experiências e buscar a sobriedade. O fundador desse movimento, que se antecipou aos Alcoólicos Anônimos em quase um século, teve um impacto significativo, ajudando muitos a superar o vício ao mesmo tempo em que despertava o interesse dos médicos para o alcoolismo como uma doença legítima.
Atualmente, a atitude em relação ao álcool está mudando. As novas gerações estão cada vez mais inclinadas a rejeitar ou moderar o consumo de álcool, levando em conta sua saúde. Phillips destaca que as justificativas morais da sobriedade foram substituídas por preocupações com os efeitos prejudiciais à saúde, com muitos jovens optando por estilos de vida mais saudáveis.
Essa transformação é notável em lugares como a França, onde, segundo Phillips, o hábito de beber vinho durante as refeições tem diminuído drasticamente. Será que estamos prestes a ver uma nova era de conscientização sobre os perigos do álcool e promover um bem-estar de forma mais ampla? O futuro da nossa relação com o álcool ainda está por se desenhar.