
Agroecossistemas: Solução para Alimentar o Mundo e Proteger o Meio Ambiente
2025-03-27
Autor: Lucas
Em 2023, cerca de 733 milhões de pessoas no mundo enfrentaram a fome, conforme o relatório "O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo (SOFI)" das Nações Unidas. As projeções são alarmantes: se as tendências atuais persistirem, 582 milhões de pessoas estarão cronicamente subnutridas até 2030. Em contraste, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê um crescimento anual de apenas 1,1% na produção global de alimentos entre 2023 e 2032, o que implica em uma crise persistente. Isso levanta a urgente necessidade de alternativas sustentáveis.
Neste contexto, agroecossistemas diversificados se destacam como uma solução viável. Esses sistemas de cultivo são baseados nas interações complexas entre plantas, animais, fungos e humanos, promovendo a biodiversidade e a resiliência ambiental. A ecóloga Mariana Benítez, da Universidade Nacional Autônoma do México, investiga como a agrobiodiversidade pode aumentar a produtividade e sustentabilidade desses sistemas.
"Os agroecossistemas abrigam uma biodiversidade associada que inclui plantas, animais e fungos que não foram intencionalmente introduzidos," explica Benítez. Essa diversidade é vital não só para a conservação ambiental, mas também para a segurança alimentar global. Ela enfatiza a importância de paisagens permeáveis que possibilitem a migração da fauna silvestre, interconectando diferentes tipos de vegetação. Isso torna os agroecossistemas cruciais para a preservação da biodiversidade.
A pesquisadora e seu grupo estudaram o sistema milpa, uma prática agrícola tradicional do sul do México, que combina o cultivo de feijões, abóboras, tomates, pimentas e, principalmente, milho. No entanto, as pressões econômicas estão levando muitos agricultores a adotar práticas de monocultivo, essencialmente minando a diversidade encontrada no sistema milpa.
"Investigar a diversidade de besouros em milpas tradicionais em comparação com monoculturas intensificadas revelou que os sistemas tradicionais, ao manterem sua diversidade, se autorregulam naturalmente," ela afirma. A maior diversidade de insetos, incluindo espécies raras, é um indicador da saúde e sustentabilidade do agroecossistema.
Porém, a adoção dessas práticas ainda enfrenta desafios significativos. Para que o modelo agroecológico seja amplamente implementado, Benítez defende políticas e programas de apoio a esse tipo de agricultura, além de uma rede social que permita a troca de conhecimentos entre pequenos agricultores. Essa abordagem é fundamental para garantir que esses produtores possam acessar mercados justos, onde possam vender seus produtos a preços justos e oferecer alimentos saudáveis para escolas, hospitais e cozinhas públicas.
Esse é um ponto crucial: caso contrário, a agricultura sustentável corre o risco de se tornar elitista, onde apenas um pequeno grupo de pessoas pode se beneficiar. Benítez conclui ressaltando a necessidade de repensar a conservação ambiental, promovendo uma coexistência harmoniosa entre a humanidade e a natureza, e defendendo a diversificação dos sistemas de produção como um caminho para um futuro sustentável.
Recentemente, Mariana Benítez concluiu um ciclo de aulas sobre agroecossistemas no Brasil, durante a Formação em Ecologia Quantitativa promovida pelo Instituto Serrapilheira. Seu trabalho ressalta a importância da integração entre ciência, agricultura e conservação ambiental para enfrentar os desafios alimentares do século XXI.