Ciência

Argentina: Melhoras Temporárias ou Ilusão Estatística?

2024-12-26

Autor: Julia

Após um primeiro semestre desafiador na Argentina, repleto de turbulências econômicas e sociais devido à desvalorização da moeda e às medidas de ajuste do presidente Javier Milei, surgem sinais de ânimo no segundo semestre. Contudo, esse otimismo pode ser uma mera ilusão. O economista Hernán Letcher, diretor do Centro de Economia Política Argentina (CEPA), alerta que, apesar das aparências, a recuperação da economia não é tão robusta quanto parece.

Letcher, que possui um mestrado em Economia Política, aponta que o índice de pobreza apresenta uma redução significativa, caindo de 54,8% no primeiro trimestre para 38,9% no terceiro. No entanto, ele ressalta que essa melhoria não reflete uma real recuperação econômica, mas sim um ajuste do impacto causado pelos aumentos nos preços de serviços públicos e transporte, além da desvalorização do peso argentino. Esses fatores têm pressionado a renda das famílias, fazendo com que mais pessoas permaneçam ligeiramente acima da linha da pobreza, embora com rendimentos muito baixos.

Além disso, a metodologia de cálculo da pobreza, que se baseia na cesta básica, pode estar contribuindo para essa distorção. A queda nos preços de alimentos, por exemplo, pode estar influenciando os números de forma artificial.

Na análise do PIB, Letcher destaca que a queda nas atividades econômicas foi acentuada no primeiro semestre, o que, paradoxalmente, resultou em uma comparação favorável no terceiro trimestre. Contudo, ele adverte que uma redução de 3,5% no PIB para o ano ainda é um cenário pessimista, já que os dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (INDEC) mostram uma queda de 2,1% em relação ao mesmo período de 2023.

O desemprego também apresenta um sinal alarmante, subindo para 6,9%, o que indica que a recuperação econômica é desigual e não benéfica para todos os setores. Letcher explica que, até agosto, os principais setores que estavam criando empregos eram apenas agricultura, mineração e pesca, o que não é suficiente para compensar a perda de postos de trabalho em áreas críticas como construção e manufatura.

À luz desses dados, a questão que fica é: as melhoras observadas são uma tendência real ou apenas uma resposta momentânea a um cenário econômico em crise? As incertezas quanto à valorização cambial e suas consequências para as indústrias nacionais permanecem no ar, criando um panorama complexo e volátil para a economia argentina.