
Austrália inova para salvar espécies ameaçadas das mudanças climáticas
2025-03-26
Autor: Fernanda
Ninhos artificiais foram instalados para ajudar o albatroz-tímido na Ilha dos Albatrozes, uma reserva de 18 hectares entre a Tasmânia e a Ilha King. Essa localização é uma das poucas onde essa ave marinha ainda encontra condições para se reproduzir. — Foto: WWF Australia
Infelizmente, as mudanças climáticas têm se tornado cada vez mais drásticas, com temperaturas na Austrália subindo 1,5°C desde o início dos registros. Além disso, a redução das chuvas no sul do país e o aumento dos incêndios florestais têm exacerbado essa situação. No período conhecido como "Verão Negro" de 2019-2020, vastas áreas foram devastadas pelo fogo, resultando na perda de habitat para bilhões de animais.
Desde então, cerca de 2 mil espécies estão ameaçadas, enquanto ecossistemas frágeis, como os recifes de coral, enfrentam riscos severos. Diante deste cenário alarmante, cientistas e conservacionistas concluem que as estratégias tradicionais de proteção ambiental não são mais suficientes.
Foi com esse desafio em mente que a ecologista Jess Melbourne-Thomas idealizou o AdaptLog, um catálogo online gratuito que reúne mais de 400 soluções para ajudar espécies a se adaptarem às mudanças climáticas. A ideia é criar uma plataforma acessível que permita que grupos de conservação tenham acesso a soluções inovadoras sem precisar começar do zero.
"Queríamos desenvolver um recurso que fosse adaptável a diferentes realidades, facilitando a aprendizagem com experiências bem-sucedidas", explica Jess ao g1.
Na prática, o AdaptLog compila intervenções que incluem desde a instalação de abrigos artificiais para espécies vulneráveis até programas de relocation de animais para regiões onde as condições climáticas serão mais favoráveis no futuro.
Esse projeto surgiu após cientistas instalarem ninhos artificiais para proteger o albatroz-tímido na costa noroeste da Tasmânia. Essa ave enfrenta sérios riscos devido à pesca comercial e ao aumento da temperatura que afeta diretamente sua reprodução. Os ninhos naturais se tornaram inadequados para garantir a sobrevivência dos filhotes, levando à necessidade de intervenções.
Os ninhos artificiais foram projetados para criar condições ideais de segurança e temperatura, resultando em uma taxa de sobrevivência dos filhotes muito maior. O sucesso do projeto inspirou a aplicação de soluções semelhantes em outras partes da Austrália, destacando a criatividade na conservação, como a irrigação das areias dos ninhos de tartarugas marinhas no leste do país, que combate a alta temperatura que prejudica a incubação dos ovos.
Em Victoria, medidas inovadoras foram implementadas para proteger espécies de sapos, criando "pântanos de sapos" que fornecem um habitat fresco durante os dias mais quentes. Essas iniciativas demonstram a necessidade urgente de adaptar as estratégias de conservação às ferramentas que a ciência oferece.
Cassia Lemos, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), considera o AdaptLog uma ferramenta essencial para enfrentar os desafios climáticos. Entretanto, ela também ressalta que no Brasil existe uma plataforma similar, o AdaptaBrasil, que é projetada para trabalhar com as particularidades ambientais do país, como a seca e as florestas tropicais.
Embora ainda não aborde a questão da biodiversidade de forma plena, o AdaptaBrasil busca integrar dados sobre água, alimentos e riscos climáticos específicos do Brasil, oferecendo uma visão mais completa dos desafios locais. Para biomas como a Amazônia e o Pantanal, são necessárias abordagens mais abrangentes que lidem com as causas subjacentes da degradação, como desmatamento e pressão da pecuária.
A inovação e a colaboração internacional são críticas para salvar as espécies ameaçadas, e o desenho de ações inspiradoras como as de Melbourne podem trazer esperança em tempos de crise climática.