Bacia do Rio Paraguai Enfrenta o Pior Volume de Chuvas da História no Pantanal
2024-12-14
Autor: Carolina
A bacia do rio Paraguai, que abrange a vastidão do Pantanal, registrou entre 2023 e 2024 a pior média de precipitações desde o início de suas medições, em 2000, de acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB). Com apenas 702 milímetros de chuva, o volume se equipara ao encontrado em regiões semiáridas do país, onde a média é inferior a 800 mm.
Focando apenas na área efetiva do Pantanal, a situação é ainda mais alarmante: o volume registrado foi de 670 milímetros, bem abaixo da média esperada de 950 milímetros, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Apesar da curta série histórica de apenas 25 anos, a seca que aflige a região é considerada sem precedentes. O engenheiro hidrológico do SGB, Marcus Suassuna, ressalta que essa situação extrapola as previsões feitas para o bioma.
Recentemente, no dia 18 de outubro, o rio Paraguai atingiu o menor nível já registrado na estação fluviométrica de Ladário (MS), que monitora o local desde 1900. O recorde anterior, registrado em 1964, foi superado, mostrando a gravidade da crise hídrica.
Um levantamento sobre as chuvas do ciclo de outubro a setembro indicou um déficit hídrico de 36% na bacia, onde a média anual esperada é de 1.095 milímetros. Desde 2019, o Pantanal tem vivido secas severas e prolongadas, que têm afetado gravemente a biodiversidade da região, a qualidade de vida dos moradores e a prática agrícola.
Suassuna menciona que, somando o déficit dos últimos cinco anos, é como se a bacia, incluindo o Pantanal, tivesse passado um ano inteiro sem chuvas. Essa realidade é ainda mais impactante quando se pensa que a maior planície alagável do mundo enfrenta condições climáticas semelhantes às do semiárido brasileiro.
Ibraim Fantin, professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMT, destaca que as chuvas saturadas estão se tornando cada vez mais intensas e concentradas, levando os pantaneiros a adotarem técnicas similares às dos habitantes de regiões áridas, como a construção de cisternas e barragens para armazenar água. No entanto, a qualidade da água se torna uma preocupação crescente, uma vez que muitos estão recorrendo a águas subterrâneas, frequentemente contaminadas.
O coordenador de mapeamento do Pantanal no MapBiomas, Eduardo Rosa, observa que a área está encolhendo drasticamente. As estatísticas de incêndios são alarmantes: em junho de 2024, estima-se que 440 mil hectares foram devastados, um aumento significativo em relação aos 257 mil hectares de junho de 2023, comparados à média mensal de aproximadamente 8.300 hectares.
A relação entre a mudança climática e a intensificação dos incêndios é um ponto crítico, com evidências de que as temperaturas mais elevadas estão contribuindo para aumentos de 40% na intensidade dos incêndios. O cenário climático crescente de seca só exacerba esta situação, com picos de incêndio tornando-se mais frequentes à medida que as temperaturas globais continuam a subir.
Essa crise hídrica não afeta apenas a fauna e flora do Pantanal, mas também compromete o sustento das comunidades locais e a livre navegação nos rios, fundamentais para o comércio regional. A adaptação se torna uma necessidade premente para enfrentar essa nova realidade, onde os antigos padrões climáticos já não parecem se aplicar mais.