Candidatura de extrema-direita e apoio à Rússia surpreendem no segundo turno da eleição presidencial da Romênia
2024-11-25
Autor: Lucas
Calin Georgescu participou de um debate presidencial em Bucareste — Foto: Inquam Photos/Octav Ganea via REUTERS
Em um giro inesperado dos acontecimentos, Calin Georgescu, um político independente com notórias inclinações de extrema-direita e um forte apoio à Rússia, alcançou o segundo turno nas eleições presidenciais da Romênia, agitando as estruturas políticas tradicionais e colocando em risco a posição pró-Ocidental do país. Após a contagem de 99,9% dos votos do primeiro turno realizado no dia 24 de novembro, Georgescu obteve 22,95% dos votos, enquanto a candidata de centro-direita Elena Lasconi, líder da União Salve a Romênia, ficou logo atrás, com 19,2%.
Esse resultado foi surpreendente, especialmente considerando que pesquisas de opinião mostravam o primeiro-ministro social-democrata Marcel Ciolacu como o candidato favorito. A incapacidade dos Liberais, parceiros de coalizão de Ciolacu, de avançar para o segundo turno indica um descontentamento geral do eleitorado. O segundo turno está programado para o dia 8 de dezembro.
A temática central da campanha foi o expressivo aumento do custo de vida, um assunto crucial em um país que integra a União Europeia e a Otan, mas que ainda enfrenta altos índices de pobreza, com uma significativa parte da população vivendo em vulnerabilidade socioeconômica. "Votei pelos injustiçados, pelos humilhados, por aqueles que se sentem sem importância," declarou Georgescu após a vitória.
Inicialmente com baixa aceitação nas pesquisas, Georgescu conseguiu mobilizar sua base através das redes sociais, especialmente TikTok, um fenômeno de surpresa em um ambiente político cada vez mais polarizado. O cientista político Cristian Pirvulescu enfatizou a seriedade da situação: "Estamos em um ponto em que podemos ter um presidente de extrema-direita. Isso é reflexo de uma desilusão com os partidos estabelecidos."
Reagindo a esta nova dinâmica, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, preferiu não comentar as possíveis implicações, mas reconheceu a atual liderança romena como não sendo favorável ao país vizinho. "Manteremos um olho nos processos eleitorais e suas consequências."
Impacto nas eleições parlamentares
A Romênia, que tem uma população de 19 milhões e foi governada sob um regime comunista por quatro décadas, se prepara para uma eleição parlamentar em 1º de dezembro. Analistas acreditam que o êxito de Georgescu poderá impulsionar grupos de extrema-direita durante esse pleito, potencialmente alterando o equilíbrio de poder no Parlamento.
Georgescu, ex-membro de uma aliança de extrema-direita, já se manifestou em favor de figuras controversas, como Ion Antonescu, conhecido por seu papel no Holocausto, o que levanta preocupações sobre o extremismo crescente no país. Ele criticou abertamente a presença da Otan na Romênia, desqualificando-a como "vergonha da diplomacia" e expressou ceticismo sobre a eficácia da aliança em proteger seus membros de um possível ataque da Rússia.
Além disso, a Romênia tem uma fronteira de 650 km com a Ucrânia e, desde o início da guerra em 2022, se tornou uma rota vital para a exportação de grãos, além de ter fornecido ajuda militar significativa, incluindo sistemas de defesa aérea. A ascensão de Georgescu poderá não apenas redefinir as relações geopolíticas da Romênia, como também afetar a estabilidade na região do sudeste europeu.