Como a Tecnologia Lidar está Transformando a Arqueologia no Brasil e Revelando Segredos do Passado
2024-12-01
Autor: João
A Vila da Conceição, uma ocupação portuguesa do século 18 nas proximidades do Forte Príncipe da Beira, em Costa Marques (RO), foi completamente esquecida por séculos, afundada sob inundações e mudanças de relevo. A região, que antes era considerada apenas um território indígena, surpreendeu pesquisadores com a revelação de um complexo sistema de ruas e várias edificações descobertas através da inovadora tecnologia Lidar. De acordo com os arqueólogos, essas estruturas podem incluir residências, oficinas e até locais de processamento de alimentos. Uma descoberta impressionante, pois anteriormente não havia indícios de geoglifos na área - agora, são reconhecidos 11 deles.
A tecnologia Lidar, que significa 'Light Detection and Ranging', utiliza pulsos de luz para criar um mapeamento detalhado do terreno, permitindo a identificação de objetos e características do solo com incrível precisão. Esse sistema é essencial para arqueólogos trabalhando em áreas remotas, onde a vegetação densa pode obstruir a visão. Além disso, o Lidar possibilita não apenas a identificação de ruínas, mas também a análise do impacto de atividades humanas sobre o ambiente.
Rondônia, onde está situada a Vila, tem um rico contexto histórico, sendo um local estratégico durante o período colonial. Antes do Tratado de Madri em 1750, conflitos entre Espanha e Portugal eram comuns, resultando na construção de fortes na região. O Forte Nossa Senhora da Conceição inicialmente estava localizado em uma área propensa a inundações, levando à construção do Forte Príncipe da Beira, cujas ruínas ainda podem ser vistas hoje.
O Projeto Amazônia Revelada, que usa Lidar para desvendar o passado da Amazônia, não se limita apenas à descoberta de patrimônios arqueológicos. O objetivo é também garantir a preservação desses locais diante de ameaças contemporâneas como o desmatamento e a expansão da pecuária. Santiago Cardoso, um guia local, mencionou: “Temos muita história enterrada na terra, não podemos deixar que isso seja destruído.”
Embora o Lidar esteja em uso em ambientes arqueológicos há décadas, sua aplicação em larga escala no Brasil é um fenômeno recente, muito por conta do alto custo envolver aeronaves e equipamentos especializados. O surgimento de drones equipados com sensores Lidar promete revolucionar esse cenário, possibilitando mapeamentos mais acessíveis e rápidos.
Historicamente, inovações como a fotografia e a datação por Carbono 14 foram marcos na arqueologia. Agora, o Lidar promete ser outro ano que transforma a forma como entendemos a história. Recentes descobertas sugerem que a Amazônia, antes da chegada dos europeus, não era apenas um deserto inóspito, mas lar de sociedades complexas, com estrutura urbana significativa, o que muda drasticamente a narrativa sobre a civilização nessa região.
Mais de 15 assentamentos foram identificados em uma área de 300 km², revelando um elaborado sistema urbano. Esses locais eram interligados e apresentavam características como templos e praças, o que indica a existência de uma civilização complexa. Estudos recentes sobre o Vale do Upano, no Equador, revelam que a cultura complexa na região já existia há 2.500 anos, muito antes do que se pensava.
O potencial do Lidar não se limita à arqueologia. Essa tecnologia está sendo utilizada de forma abrangente em vários campos, incluindo a arquitetura e o planejamento urbano. As cidades inteligentes do futuro já começam a integrar Lidar em seus sistemas, permitindo um gerenciamento urbano mais eficiente.
As aplicações do Lidar são vastas e suas revelações continuam a surpreender. Transformando não apenas a maneira como compreendemos o passado, mas também preparando o terreno para um futuro onde a tecnologia e a arqueologia caminham lado a lado, a exploração continua a abrir novas portas para o entendimento da evolução humana.