
Como o uso excessivo de celulares está transformando a ansiedade em uma epidemia entre os jovens
2025-03-25
Autor: Carolina
Os dados de 2019 indicavam uma crescente preocupação, mas a realidade atual é ainda mais alarmante. No Brasil, um levantamento recente do Ministério da Saúde revelou que, entre 2014 e 2024, os atendimentos relacionados a transtornos de ansiedade no SUS aumentaram impressionantes 1.575% entre crianças de 10 a 14 anos. Para os adolescentes de 15 a 19 anos, o aumento foi ainda mais chocante, chegando a 4.423%.
Uma análise da Folha de S.Paulo em 2024, com dados da RAPS, revelou que os registros de ansiedade entre crianças e jovens agora superam os de adultos pela primeira vez. Especialistas apontam o uso intenso de smartphones e a dependência das redes sociais como os principais culpados por essa crise. Jonathan Haidt, professor da New York University e autor do best-seller "A Geração Ansiosa", sugere que a infância hiperconectada é a raiz da epidemia de transtornos mentais que estamos testemunhando.
Durante a adolescência, os jovens têm que lidar com um novo mundo digital que não apenas gera comparação social constante, mas que também impõe padrões de sucesso frequentemente inalcançáveis. Plataformas como Instagram e TikTok criam ambientes de comparação, onde as imagens de vidas aparentemente perfeitas aumentam a pressão social sobre os jovens. "Para ter sucesso social, os adolescentes precisam gerenciar suas marcas online, o que consome uma parte significativa de sua atenção", explica Haidt.
A pesquisa de Haidt se alinha ao trabalho de Jean Twenge, que nota que a Geração Z, aqueles que nasceram após 1995, é a primeira a passar toda a adolescência imersa nas telas, resultando em níveis de ansiedade e depressão significativamente mais altos. Os jovens que passam mais tempo em frente às telas relatam maior solidão, mesmo estando sempre conectados.
Além de afetar a saúde mental, o uso excessivo de telas perturba o sono, um fator crucial para o bem-estar. A luz azul dos dispositivos suprime a produção de melatonina e as frequentes notificações mantêm o cérebro em estado de alerta, tornando-se um gatilho tanto para a ansiedade quanto para a depressão.
Haidt caracteriza essa situação como "A Grande Reconfiguração", referindo-se a uma perda de tempo que antes era gasto em interações face a face e brincadeiras ao ar livre. Ele destaca que a Geração Z está presa em um ciclo de consumo de conteúdo digital excessivo, o que compromete as oportunidades de brincar e socializar de forma saudável.
Para muitos jovens, desconectar-se das redes sociais não é uma opção viável, já que essas plataformas são o cerne de sua socialização. No entanto, isso gera uma dependência que é difícil de superar. O cyberbullying também exacerba a situação, com um em cada três jovens sendo vítimas desse tipo de violência online, que é não apenas invasivo, mas também omnipresente, pois pode ocorrer a qualquer momento e em qualquer lugar.
Dentro do contexto biológico, a ansiedade pode ser entendida como uma resposta natural do corpo a ameaças percebidas, mas a hiperexposição a estímulos digitais pode intensificar essa reação de maneira prejudicial.
O cenário atual levou a algumas intervenções governamentais. No Brasil, a Lei 15.100/25 proíbe o uso de celulares em escolas, enquanto países como a Austrália e a Flórida impuseram restrições severas ao uso de redes sociais para menores de idade. Contudo, essas soluções são muitas vezes vistas como simplistas, e especialistas sugerem que é essencial educar os jovens sobre usos saudáveis da tecnologia.
Apesar de algumas iniciativas, a saúde mental das novas gerações continua a ser uma preocupação com crescente relevância. Os especialistas argumentam que é vital promover uma educação digital consciente, bem como aliviar a pressão social imposta pelas redes. Além disso, o papel ativo dos pais e educadores é crucial na construção de um ambiente que permita as interações humanas genuínas e o desenvolvimento emocional saudável dos jovens.
Com o aumento da ansiedade entre os jovens refletindo as transformações trazidas pela era digital, a responsabilidade de todos – governos, instituições, educadores e famílias – é colaborar na criação de um equilíbrio que possibilite aproveitar os benefícios da tecnologia sem comprometer a saúde mental das futuras gerações.