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Crise na Energia Eólica: impactos devastadores e desafios no Brasil

2024-10-08

Autor: Pedro

Os ventos que sopram no Brasil neste ano estão longe de ser favoráveis para o setor de energia eólica, que já acumula prejuízos alarmantes entre R$600 e R$700 milhões, com a possibilidade de ultrapassar R$1 bilhão até o final de dezembro. Essa situação preocupante foi destacada por Francisco Silva, diretor técnico da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), durante o 2º Fórum Latino-Americano de Economia Verde, realizado em São Paulo na semana passada.

Silva alertou para o desmantelamento do setor eólico, afirmando que “não há demanda para energia nova” e que a falta de infraestrutura adequada é um dos principais obstáculos. Ele enfatizou que a transmissão de energia é um gargalo crítico, exacerbado pela intermitência das fontes eólicas e solares, a qual representa um desafio para a estabilidade das redes elétricas do país.

O Operador Nacional do Sistema (ONS) tem limitado a contribuição dessas fontes, especialmente no Nordeste, para evitar problemas de sobrecarga e instabilidade nas redes, como o apagão que afetou a região em 15 de agosto de 2023. Este cenário é alarmante, considerando que mais de 90% dos projetos energéticos programados até 2030 são baseados em fontes intermitentes, que exigem equipamentos caros para integração ao sistema existente, o que encarece ainda mais a operação.

Francisco Silva também mencionou a necessidade urgente de um marco regulatório para o desenvolvimento de usinas eólicas offshore, com 270 gigawatts (GW) de projetos aguardando liberação no Brasil. No entanto, ele questiona a viabilidade de ampliar ainda mais a oferta eólica, visto que a capacidade instalada atual do país é de 202 GW.

A situação não é exclusiva do Brasil. Em 2023, os Estados Unidos registraram uma queda de 2,1% na geração de eletricidade das usinas eólicas, mesmo com a adição de 6,2 GW em novos aerogeradores, segundo a Agência de Informações de Energia (EIA). Empresas internacionais como a dinamarquesa Oersted e a norueguesa Equinor relataram perdas significativas, totalizando US$ 5 bilhões em investimentos em projetos eólicos offshore devido a custos de financiamento e construção que não eram cobertos pelos contratos de venda de energia.

Outro incidente que chamou atenção foi o rompimento de uma pá de uma turbina de 13 MW do projeto eólico offshore Vineyard 1, que provocou o fechamento de praias em Nantucket, Massachusetts, e levantou preocupações sobre danos ao ecossistema local e à pesca na região. Isso resultou em restrições significativas para a construção das turbinas, paralisando o projeto de US$ 4 bilhões, similar a acidentes envolvendo turbinas da GE em projetos no Reino Unido que também apresentaram falhas.

Esses incidentes destacam os riscos e custos associados aos projetos de energia eólica offshore, que acabam impactando os consumidores através de tarifas mais altas e subsídios governamentais, tornando tais empreendimentos inviáveis sem apoio econômico.

O analista do Citigroup, Andrew Kaplowitz, chamou a atenção para a necessidade de uma reformulação na abordagem desses projetos, enquanto Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), alertou sobre os riscos da expansão acelerada das fontes intermitentes, que pode gerar ônus aos consumidores, especialmente os mais vulneráveis.

Diante desse cenário complicado, é imprescindível que o Brasil reavalie sua trajetória no setor elétrico e não se deixe levar pela esperança de ventos mais favoráveis.