Nação

Crise na Segurança: Especialistas Revelam como a Politização Descontrolou a PM em São Paulo

2024-12-09

Autor: João

A crescente violência policial em São Paulo, evidenciada por vídeos recentes que mostram abusos e ações ilegais por parte de policiais, marca uma crise preannunciada desde o início da gestão do governador Tarcísio de Freitas, junto com a nomeação de Guilherme Derrite como secretário da Segurança Pública. O consenso entre os especialistas é que os discursos políticos que priorizam o combate ao crime a qualquer custo, além de garantir respaldo a policiais em situações de violência, contribuíram significativamente para essa crise.

Em março, Tarcísio chegou a afirmar que não estava 'nem aí' para as denúncias de organizações de direitos humanos sobre abusos no uso da força letal durante ações policiais na Baixada Santista. Contudo, numa reviravolta, ele reconheceu a influência de seus discursos sobre as condutas dos policiais nas ruas, ressaltando a importância da responsabilidade sobre o que se fala. "Se a gente erra no discurso, a gente dirige o comportamento de forma errada e colhe consequências negativas", declarou recentemente.

Leandro Piquet Carneiro, cientista político e coordenador da Escola de Segurança Multidimensional da USP, enfatiza que a politização efetivamente criou um problema grave. Ele afirma que uma polícia sem controle não apenas se tornará violenta, mas pode também se tornar corrupta. "Cada declaração em que se pede que policiais usem seu instrumento de trabalho gera uma predisposição negativa para isso. A PM tem uma cultura confrontacional que deve ser gerenciada com muito cuidado", comentou.

Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, expôs que nunca antes em São Paulo um secretário de Segurança Pública teve tanto poder e influência política sobre a polícia. A chegada de Derrite, ex-capitão da PM e desligado da Rota por número excessivo de mortes, trouxe mudanças que desestruturaram a hierarquia, comprometendo os mecanismos de controle. Segundo Carolina, essa centralização de poder na figura do secretário é alarmante. Os afastamentos de policiais agora têm que ser aprovados por um subcomandante, alguém de confiança de Derrite, diminuindo a autonomia dos comandantes locais.

Adicionalmente, Derrite mantém uma relação próxima com as tropas, utilizando redes sociais para se comunicar e participando de eventos policiais, o que reforça seu controle sobre a corporação. José Vicente da Silva, coronel reformado da PM, criticou os métodos de Derrite, afirmando que ele subverteu hierarquias há muito estabelecidas na instituição. "Ninguém antes ousou implementar as anomalias que têm ocorrido sob sua gestão. Isso é preocupante e pode resultar em sérias consequências para a segurança pública", alertou Silva.

A escolha de Derrite, um político em atividade, para liderar a segurança pública é vista como um erro por especialistas. Ele foi escolhido por Tarcísio, após uma indicação de Eduardo Bolsonaro, e está licenciado de seu cargo na Câmara para assumir essa função.

A Secretaria de Segurança Pública, ao ser questionada, defendeu que age com base em princípios técnicos e que todas as denúncias contra policiais são investigadas adequadamente. A pasta destacou ainda que o número de mortes em ações policiais durante os primeiros dois anos de Tarcísio é inferior ao de gestões anteriores. No entanto, questionamentos sobre a legitimidade e a eficácia de tais práticas permanecem, lançando um alerta sobre a necessidade de uma reforma profunda no setor para garantir a segurança cidadã e o respeito aos direitos humanos.