O Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu um inquérito para investigar as alarmantes condições de trabalho na construção da nova fábrica da BYD, a renomada montadora de carros elétricos chinesa, em Camaçari, a apenas 50 km de Salvador.

Uma reportagem da Agência Pública, publicada na última quarta-feira (27), revelou uma realidade sombria: trabalhadores chineses de empresas terceirizadas estão supostamente enfrentando jornadas de até 12 horas diárias, sem uma folga semanal e sem os necessários equipamentos de proteção individual.

Os relatos não param por aí. Existem denúncias de agressões físicas, onde funcionários teriam sido alvo de chutes e pontapés por seus supervisores. A situação é ainda mais crítica com a falta de água potável e alojamentos em condições totalmente degradantes para os operários.

Em resposta a essas acusações, a BYD se mostrou alarmada e afirmou que imediatamente afastou os agressores e suspendeu seu acesso à unidade. A empresa exigiu que as prestadoras de serviços tomassem medidas urgentes para evitar a repetição de tais abusos.

A construção da fábrica foi oficialmente iniciada em outubro de 2023, em uma cerimônia que contou com a presença do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). O complexo industrial, que estava instalado no antigo parque da Ford, terá três fábricas com um investimento colossal de R$ 5,5 bilhões e previsão de produção inicial de 150 mil veículos elétricos e híbridos por ano.

O inquérito foi motivado por uma denúncia anônima recebida no dia 30 de setembro, e uma inspeção foi realizada no dia 11 de novembro nas dependências da obra.

O MPT está coletando evidências para apresentar uma proposta de ajuste de conduta ou até mesmo uma ação judicial contra a montadora chinesa. Documentos como contratos de trabalho, vistos de trabalho para estrangeiros e planos de prevenção de acidentes e saúde ocupacional também serão analisados com rigor.

O procurador Bernardo Guimarães, responsável pelo caso, revelou: "As informações que temos até o momento indicam a necessidade urgente de correções nos procedimentos relacionados ao ambiente de trabalho, para assegurar a saúde e segurança dos empregados."

Mesmo diante das denúncias, a BYD alega ter identificado irregularidades relativas aos trabalhadores em Camaçari e que exigiu ações imediatas das empresas responsáveis pelas obras. A montadora também enfatizou que seus funcionários receberam o suporte necessário para continuar suas atividades.

A empresa, que já opera há uma década no Brasil, reafirmou seu compromisso com a legislação local, a ética e o respeito à dignidade humana. Isso levanta uma questão: será que a realidade nas obras vai mudar, ou essas promessas são apenas uma fachada?