Uma pesquisa inovadora da Universidade do Sul da Austrália, recentemente publicada na revista Healthcare, desafiou a ideia de que levar apenas 21 dias para estabelecer novos hábitos é suficiente. De acordo com o estudo, novos hábitos podem levar de dois meses a um ano para se enraizar plenamente na rotina das pessoas.

A meta-análise abrangeu 20 estudos realizados entre 2008 e 2023, envolvendo mais de 2.600 participantes. Essas pesquisas analisaram comportamentos como uso diário do fio dental, rotina de exercícios físicos, alimentação balanceada e consumo adequado de água.

Embora a formação de novos hábitos comece a ocorrer em torno de dois meses, o tempo necessário para que esses hábitos se tornem automáticos e parte integrante da vida varia amplamente de pessoa para pessoa. O sucesso nessa jornada está intrinsecamente ligado a fatores como a motivação e o prazer imediato que a nova rotina proporciona.

O neurologista Sley Tanigawa Guimarães, coordenador de um programa de medicina de estilo de vida, explica: "O cérebro humano tende a evitar mudanças, preferindo a rotina, pois enxerga alterações como ameaças, mesmo que sejam benéficas. A introdução de novos comportamentos exige um esforço considerável." Essa resistência natural pode dificultar a adoção de hábitos saudáveis, resultando em frustrações.

No entanto, uma boa notícia é que, se uma pessoa consegue manter um novo hábito por mais de seis meses, as chances de esse hábito se firmar na rotina aumentam significativamente. Além disso, existem estruturas chamadas micro-hábitos que ajudam esse processo. Por exemplo, para quem deseja ir à academia após o trabalho, uma estratégia eficaz pode ser deixar a bolsa da academia no carro, eliminando a necessidade de passar em casa antes da atividade.

Pesquisadores como B. J. Fogg, da Universidade Stanford, defendem que começar diariamente com uma ação mínima, como passar fio dental em apenas um dente, pode facilitar a consolidação do hábito. Segundo Guimarães, facilitar as ações é fundamental; por exemplo, ter água sempre disponível e criar lembretes, como alarmes, pode ajudar muito na formação do hábito de hidratação.

É importante destacar que recaídas e tentativas falhas são comuns nesse processo de mudança. O foco excessivo em resultados rápidos pode levar à desistência. Um dos aspectos cruciais para uma mudança bem-sucedida é ter clareza sobre os motivos para adotar novos hábitos e estratégias realistas para superar obstáculos.

"Levar o diálogo para um lado mais positivo acerca do cérebro pode resultar em mudanças mais eficazes. Emoções desempenham um papel central na formação de hábitos, e é vital celebrar cada pequeno progresso como uma conquista significativa", enfatiza Sley Guimarães.

Outra dica valiosa é contar com um suporte social, como um amigo ou familiar que entenda suas metas e possa oferecer encorajamento durante a jornada. Essa rede de apoio ajuda a manter a motivação e a resiliência diante de desafios.

Com dedicação e persistência, os novos hábitos podem se transformar em parte essencial da vida diária, não apenas promovendo o bem-estar físico, mas também proporcionando uma melhora significativa na saúde mental e emocional.