
Imortais que se esquivam dos impostos: a inovadora cidade startup do Caribe
2025-03-30
Autor: Lucas
Com suas deslumbrantes praias de areias brancas e pontos de mergulho de tirar o fôlego, Roatán é um dos destinos mais procurados de Honduras e se tornou um refúgio para estrangeiros milionários, que investem em hotéis e imóveis na região.
No entanto, a história começou a mudar em 2019, quando um grupo se apresentou à comunidade local, afirmando ser parte de uma iniciativa chamada Próspera, armados com um documento assinado por 49 moradores que permitia a criação de um projeto atípico de desenvolvimento imobiliário e comunitário.
O que parecia ser mais um empreendimento sem grandes impactos rapidamente se transformou em um projeto audacioso. Nascia Próspera Zede, a primeira cidade modelo de Honduras, apelidada de "Hong Kong do Caribe", que, ironicamente, começava a gerar críticas e controvérsias.
Embora o termo "Zede" signifique "zona de emprego e desenvolvimento econômico" em espanhol, Próspera se apresenta como uma experiência revolucionária de autogoverno, com impostos alarmantemente baixos, um sistema de justiça próprio e regulamentação empresarial incrivelmente flexível. Isso atraiu empreendedores do Vale do Silício e entusiastas de moedas digitais, ávidos por um ambiente que favorece o libertarianismo.
Criado pelo investidor venezuelano Erick Brimen, Próspera foi idealizado como uma solução para a pobreza em Honduras, mas logo se tornou uma referência no mundo das startups ultraliberais. Durante suas campanhas, Brimen tentou convencer legisladores americanos, ressaltando a necessidade de "zonas de prosperidade" para evitar que os EUA seguissem o exemplo da Venezuela.
A proposta, inspirada nas teorias do economista vencedor do Prêmio Nobel Paul Romer, visava criar cidades modelares em países com governos fracos. Romer acreditava que, com leis mais modernas e menos burocráticas, essas zonas poderiam prosperar.
Ainda que a ideia tenha seus fundamentos teóricos, a prática é problemática. O modelo de Próspera se baseia em uma Constituição própria, com leis que remetem a uma autonomia quase total. A reforma que abriu espaço para essas Zedes foi cercada de polêmicas, criticando-a por permitir a venda de território soberano a corporações estrangeiras.
Próspera, que surgiu com um investimento de US$ 120 milhões, agora é um caldeirão de possibilidades. Com cerca de 2 mil "moradores" – pessoas que vivem ou gerenciam negócios remotamente – a cidade já abriga escolas que utilizam o método Montessori, uma fábrica de casas modulares projetadas pela célebre arquiteta Zaha Hadid e até um café que aceita bitcoins e ensina sobre criptomoedas.
Contudo, o crescimento da Próspera não chegou sem resistência. Muitos moradores de Crawfish Rock expressaram preocupações de que seus direitos de propriedade poderiam ser ameaçados. A localização geográfica e os vastos investimentos realizados pela iniciativa fizeram surgir um movimento em defesa da soberania nacional.
Em 2021, a nova presidente do país, Xiomara Castro, fez da luta contra as Zedes um pilar de sua campanha. Após uma vitória histórica, seu governo aprovou em 2022 uma reforma que aboliu a legislação que permitia a criação dessas zonas, afirmando que Honduras nunca mais seria vista como uma "república das bananas".
Os desdobramentos seguem polêmicos. Próspera processou Honduras, exigindo uma indenização de US$ 10,7 bilhões, o que equivale a um terço do PIB do país. Ao mesmo tempo, continua operando em sua própria lógica de impunidade e liberalismo extremo, enquanto seus fundadores promovem inovações ousadas na área da saúde, desafiando regulamentos internacionais com tratamentos clínicos revolucionários.
Agora, Roatán se vê em uma encruzilhada. Com uma população em crescimento e uma infraestrutura que precisa de atenção, a cidade meterá ou não as mãos na massa para enfrentar o desafio dessa experiência que, embora excitante, levanta dúvidas sobre o real futuro de sua sociedade. O que acontecerá quando o experimento e suas promessas de eficiência e liberdade se chocarem com a realidade das demandas por infraestrutura e justiça social?