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Juíza compara tratamento dado a nazistas no passado e venezuelanos deportados por Trump

2025-03-25

Autor: Ana

Uma juíza da Corte de Apelações dos EUA, Patricia Millett, fez uma declaração impactante ao comparar os direitos dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial com o tratamento que os migrantes venezuelanos deportados pelo governo Trump receberam. Durante uma audiêcia, ela ressaltou que os nazistas tiveram mais oportunidades de contestar suas remoções dos Estados Unidos do que os venezuelanos que foram deportados sob alegações controversas de vínculos com gangues.

A audiência focou na aplicação de uma antiga lei de 1798, a Lei de Inimigos Estrangeiros, que foi ativada pelo governo Trump em situações que envolviam deportações de indivíduos alegadamente ligados à gangue Tren de Aragua. A juíza Millett questionou o advogado do governo, Drew Ensign, sobre a falta de tempo dado aos venezuelanos para se defenderem contra as acusações que levaram às suas deportações.

"Os nazistas receberam um tratamento melhor sob a Lei de Inimigos Estrangeiros do que os venezuelanos deportados", afirmou Millett, provocando uma defesa por parte de Ensign, que minimizou a analogia com os nazistas. Ele argumentou que as circunstâncias eram únicas e diferentes.

A lei em questão havia sido usada apenas em três ocasiões na história dos EUA, sendo a última vez durante a internamento de imigrantes de origem japonesa, alemã e italiana na Segunda Guerra Mundial. A administração Trump está agora tentando suspender uma proibição imposta pelo juiz James Boasberg que bloqueou o uso dessa lei para deportações sem a devida ordem judicial da imigração.

Famílias de alguns dos deportados contestam as alegações do governo, afirmando que muitos não têm nenhum envolvimento com atividades criminosas. Um caso notório envolve um jogador de futebol que foi rotulado como membro de gangue devido a uma tatuagem relacionada ao seu time, o Real Madrid. Essa situação levanta questões sobre os critérios utilizados pelas autoridades americanas na identificação de criminosos e a possibilidade de abuso de poder.

A juíza Millett, nomeada pelo ex-presidente Barack Obama, integra um painel que está analisando o recurso da administração Trump. A corte não divulgou um cronograma para sua decisão. A situação se torna ainda mais complicada à medida que os republicanos, que detêm a maioria no Congresso, frequentemente apoiam as ações do presidente, enquanto os juízes federais se tornam uma das poucas barreiras contra potenciais abusos de poder.

Em documentos apresentados à corte, o governo argumentou que não poderiam revelar detalhes sobre as deportações, invocando o privilégio de segredo de Estado. Boasberg, no entanto, reafirmou que qualquer indivíduo tem o direito de contestar alegações que possam resultar em sua deportação.

Após Boasberg ter suspenso temporariamente deportações, Trump criticou o juiz e até sugeriu um impeachment, gerando uma resposta do presidente da Suprema Corte, que reforçou que a via adequada para discordâncias judiciais são os recursos legais e não ações de impeachment.

Durante a audiência, o advogado da ACLU, Lee Gelernt, apresentou exemplos de casos onde a ação do governo em nome da segurança nacional foi restringida, argumentando que garantir o devido processo a indivíduos não representa uma ameaça à segurança do país.

O juiz Boasberg rejeitou um pedido do governo Trump para revogar sua ordem, deixando claro que as pessoas precisam ter a oportunidade de provar que não são membros da Tren de Aragua antes de serem deportadas. O governo Trump recentemente realizou deportações de mais de 200 pessoas para El Salvador, um acordo que inclui pagamentos significativos ao governo local, levantando questões sobre as condições de detenção e os direitos humanos dos deportados.

O que a análise desse caso revela sobre a complexidade dos direitos dos imigrantes e a aplicação da lei nos EUA? O futuro de muitos migrantes ainda está em jogo, aguardando decisões que podem reverter deportações injustas e garantir a proteção dos direitos humanos.