
Latam projeta lucro de R$ 6,5 bilhões com acordo polêmico com a Voepass
2025-03-21
Autor: Maria
Menos de dois meses antes da tragédia que resultou na morte de 62 pessoas em Vinhedo (SP), a Voepass firmou um contrato de parceria com a Latam, previsto para gerar uma receita estimada em R$ 6,5 bilhões em um período de nove anos, com margem de lucro de 10%, totalizando R$ 650 milhões, condicionado ao cumprimento de metas estabelecidas.
Documentos obtidos revelam que, em um acordo celebrado em 17 de junho de 2024, a Latam ganhou um controle significativo sobre as operações e a gestão da Voepass. Em essência, a Voepass se viu em uma posição onde qualquer novo empréstimo para investimentos precisava da autorização prévia da Latam. Esse vínculo levantou questões sobre a autonomia da Voepass, uma vez que o acordo dava acesso à Latam a documentos operacionais internos da concorrente, além de controle sobre suas finanças.
Esse contrato é alvo de um processo judicial, onde as duas empresas se encontram em um contencioso complexo e litigioso. A Latam, ao ser abordada sobre o assunto, optou por não comentar os detalhes do acordo estabelecido com a Voepass.
Surpreendentemente, menos de uma semana após o acidente de avião em Vinhedo, a Latam divulgou uma nota à imprensa afirmando que a expansão do acordo de codeshare se tratava apenas de uma "permuta de slots", negando qualquer ingerência operacional ou administrativa. No entanto, as informações disponíveis contradizem essa afirmação, revelando que o contrato assinado em junho de 2024 previa um controle muito mais abrangente.
Desde 2014, as duas companhias já mantinham um acordo de codeshare, que foi ampliado em março de 2023. A última alteração em junho de 2024, que ocorreu 50 dias antes do trágico acidente, garantiu um acesso quase irrestrito da Latam aos documentos da Voepass. Notavelmente, o conteúdo desse novo arranjo nunca foi divulgado publicamente.
As informações que vieram à tona sobre o contrato surgiram de uma análise no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) que examinou a solicitação de expansão do acordo de codeshare. Segundo documentos, o acordo ainda incluía uma cláusula que previa assistência técnica da Latam para ajudar na redução dos custos operacionais da Voepass, apontando uma relação de dependência que pode ter contribuído para a fragilidade da companhia.
Novos detalhes do caso são alarmantes: em fevereiro, a Voepass moveu uma ação judicial contra a Latam, reivindicando o pagamento de R$ 34,7 milhões, entre outros fatores devido à suspensão da operação de quatro aeronaves que integravam o acordo de codeshare, poucos meses após o acidente fatídico. A empresa Voepass relatou que, em agosto – mês da tragédia – cerca de 93% de seu faturamento vinha desse acordo com a Latam.
O contrato adicional, que foi anexado de forma sigilosa ao processo judicial, revela que a Latam tinha acesso irrestrito a informações internas da Voepass. Esses desdobramentos não apenas soltam uma luz sobre a complexidade do relacionamento entre as duas companhias, mas também levantam sérias questões sobre a segurança e a proteção dos dados operacionais em meio a um cenário tão conturbado na aviação brasileira.