Na tarde do dia 15 de junho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que estabelece o Dia da Música Gospel, celebrado no dia 9 de junho. A cerimônia ocorreu no Palácio do Planalto e contou com a presença de diversas lideranças evangélicas, refletindo o agrado do presidente à crescente bancada evangélica no Congresso Nacional.

A criação dessa data não é apenas um gesto político; representa também a crescente popularidade da música gospel no Brasil, um gênero que mobiliza milhões, apesar de não figurar nos rankings de streaming. Nos Estados Unidos, o gospel é essencial na música afro-americana, enquanto, no Brasil, este rótulo abrange, predominantemente, a música cristã veiculada nas igrejas evangélicas.

Com a expansão das comunidades evangélicas no país, a música gospel tem gerado discussões e polêmicas, especialmente entre aqueles que se opõem à ideologia promovida por alguns pastores e líderes religiosos. Um exemplo disso é o show da turnê 'Caetano & Bethânia', que vem causando desconforto entre o público de outras crenças, especialmente quando Caetano Veloso interpreta 'Deus cuida de mim', uma música gospel popularizada pelo pastor Kleber Lucas.

Durante sua apresentação, Veloso comenta sobre o crescimento da população evangélica no Brasil, afirmando que essa expansão é de grande importância para ele, o que frequentemente provoca reações de surpresa e indignação entre os espectadores. Isso ilustra a polarização política que se reflete na intolerância religiosa: muitos evangélicos se opõem a manifestações culturais que exaltam as tradições afro-brasileiras, enquanto alguns não evangélicos, por sua vez, repudiam as homenagens feitas aos evangelhos.

A sanção da lei, idealizada pelo deputado federal Raimundo dos Santos (PSD-PA), que também é cantor e sanfoneiro de música gospel, pode intensificar ainda mais a intolerância musical religiosa no país, diante do cenário atual onde a diversidade de crenças e expressões culturais está em constante disputa. No entanto, essa nova celebração pode também abrir portas para um diálogo mais construtivo entre as diferentes vertentes musicais e religiosas, promovendo um maior respeito e compreensão mútua entre as diversas comunidades que compõem a rica tapeçaria cultural brasileira. Em tempos em que o respeito à diversidade é mais necessário do que nunca, a criação do Dia da Música Gospel se apresenta como uma oportunidade – mas também um desafio – de reflexão sobre nosso convívio em sociedade.