Saúde

Mpox: Uma Ameaça Crescente em Kinshasa que Pode Afetar o Mundo Todo

2025-01-02

Autor: Lucas

Mireille Efonge, uma moradora da comunidade Pakadjuma em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, começou a apresentar sintomas há alguns meses: febre intensa e lesões dolorosas. Sua condição se agravou rapidamente, levando seus vizinhos a levá-la a um centro de saúde local. O diagnóstico foi alarmante: Mpox, uma doença frequentemente desconhecida na região.

Esse diagnóstico chegou em agosto, em um momento em que o vírus, que é intimamente relacionado à varíola, estava se espalhando silenciosamente por Kinshasa, uma cidade com 17 milhões de habitantes. Especialistas acreditam que existia uma oportunidade para conter a propagação do vírus antes que se tornasse uma emergência de saúde pública global.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou oficialmente o Mpox como uma emergência de saúde pública em agosto deste ano, em resposta à detecção de uma nova e altamente contagiosa cepa do vírus em uma remota cidade mineradora no leste do Congo. Desde então, o número de casos tem aumentado de maneira alarmante, colocando pressão sobre os já frágeis sistemas de saúde do país.

Os campos superlotados, que abrigam milhões de congoleses deslocados devido a conflitos e crises econômicas, estão particularmente vulneráveis à infecção. As condições de vida nesses locais são precárias e o acesso a água potável é limitado, o que agrava a situação. Embora esforços para controlar o Mpox sejam realizados, como a vacinação e o isolamento de pacientes, esses esforços têm sido descoordenados e abaixo da necessidade urgente para conter o avanço do vírus.

Infelizmente, a resposta do governo congolês tem sido marcada por burocracia complexa. Profissionais de saúde expressam preocupação com a falta de liderança e a luta por acesso a fundos internacionais, o que tem atrasado campanhas de vacinação. Até agora, apenas uma fração das vacinas disponíveis tem sido administrada. Uma alarmante proporção dos infectados são crianças, mas nenhuma delas recebeu a vacina até o momento.

A elevada taxa de infecção de quase 53.000 casos de Mpox em 2023 representa um aumento excessivo em relação ao ano anterior. Mais de 1.250 mortes ligadas ao vírus foram registradas este ano, e a situação em Kinshasa é particularmente sombria, com duas cepas diferentes do vírus circulando na população, o que complica ainda mais a resposta de saúde pública.

Historicamente, o Mpox era uma doença restrita a áreas rurais do Congo, mas a nova cepa identificada, Clado Ib, está se espalhando rapidamente, especialmente em comunidades como Pakadjuma, onde muitos dependem da venda de sexo como meio de subsistência. A falta de medidas eficazes de controlo e a negligência em implementar estratégias de rastreamento de contatos estão favorecendo a propagação do vírus.

As condições de vida em Pakadjuma são desafiadoras. Em um bairro marcado pela pobreza, a promoção da saúde muitas vezes não chega até os mais necessitados. O acesso a serviços de saúde é limitado e o medo de estigmatização faz com que muitos não busquem ajuda, criando um ciclo vicioso de infecções.

As trabalhadoras do sexo de Pakadjuma geram desafios adicionais para o combate à doença. Com as informações sobre a epidemia se espalhando, o número de clientes caiu drasticamente, levando muitas a vender seus bens para sobreviver. Embora a vacinação contra o Mpox tenha começado recentemente, o ritmo é agonizante e muito abaixo do necessário para conter a propagação do vírus.

A única vacina eficaz para crianças está em processo de envio ao Congo, mas a distribuição e o treinamento adequado para profissionais de saúde ainda estão por vir. Se não forem tomadas medidas imediatas, o Congo pode enfrentar uma crise de saúde pública que não apenas afeta seu povo, mas que também pode se espalhar para outras partes do mundo, novamente colocando o Mpox nos holofotes globais.