A luta contra o vício da nicotina ganha novos contornos no Brasil, com a Universidade Estadual Paulista (Unesp) criando um programa inovador voltado para a conscientização e prevenção do uso de vapes e cigarros eletrônicos, que se alastram rapidamente entre os jovens. Essa iniciativa surge em um momento crítico, já que a indústria do tabaco, capaz de se reinventar para continuar lucrando, tem contribuído para essa crescente epidemia.

Recentemente, dados da pesquisa Ipec revelaram que o uso de cigarros eletrônicos no Brasil aumentou alarmantes 600% entre 2018 e 2023, especialmente entre os jovens de 18 a 23 anos, que acreditam que esses produtos são menos prejudiciais à saúde do que os tradicionais. Essa percepção falha, aliada à variedade de opções atrativas em design e sabor, tem potencializado o vício na nova geração.

É importante destacar que, apesar da proibição da venda de dispositivos eletrônicos para fumar no Brasil desde 2009, esses produtos ainda estão disponíveis no mercado ilegal. Em uma tentativa de responder a essa situação, a Anvisa anunciou, em abril deste ano, a proibição total de fabricação, importação, distribuição e venda desses dispositivos, além de sua entrada no país por viajantes. Essa medida visa reforçar a necessidade de regulamentação e conscientização sobre os riscos associados ao uso de nicotina.

Respondendo ao problema, a Unesp iniciou um projeto em 2023, onde 20% dos estudantes entrevistados relataram ter usado cigarros eletrônicos nos últimos 30 dias, com 11% fazendo uso combinado com cigarros convencionais. Os dados preocupantes mostram que os jovens estão se direcionando a um caminho de dependência que coloca em risco sua saúde.

Por conta disso, a Unesp implementou um programa de prevenção que combina pesquisa acadêmica, atividades educativas e mobilização estudantil. Com a participação de 34 estudantes, o programa busca criar um ambiente universitário mais saudável, através da produção de materiais informativos e campanhas que alertam sobre os riscos do tabagismo e os danos aos pulmões causados pelos dispositivos eletrônicos.

Entre as ações do programa, estão incluídas a criação de maquetes ilustrativas e vídeos que mostram os efeitos nocivos do uso de vapes. A ideia é disseminar essas informações dentro da universidade e também em comunidades locais, formando uma rede de conscientização crucial contra o consumo de nicotina.

Essa iniciativa não apenas preocupa-se com a saúde individual, mas também levanta questões sobre a saúde pública e o impacto ambiental dos resíduos gerados pelo uso de cigarros. A parceria da Unesp com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, sob a coordenação da Dra. Ludmila de Cândida Braga, enfatiza a importância de uma abordagem comunitária para combater essa epidemia.

Com essa ação, a expectativa é que o modelo da Unesp sirva de inspiração para outras instituições em todo o país, ajudando a reverter a tendência alarmante de aumento do consumo de nicotina entre jovens. O cigarro não é apenas um desafio pessoal, mas uma questão coletiva, exigindo uma resposta forte e coordenada na luta contra o tabagismo.