Ciência

O Legado de Sérgio Muniz Oliva Filho: Um Matemático que Transformou Vidas

2025-03-17

Autor: Pedro

A escolha de Sérgio Muniz Oliva Filho em se tornar matemático não surpreendeu sua família, especialmente por conta do prestígio previamente conquistado por seu tio, Waldyr Muniz Oliva, que foi reitor da USP. A paixão e a dedicação do tio pela matemática definitivamente moldaram o caminho de Sérgio.

Contratado como professor no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP no início de seu mestrado, em 1987, Sérgio lecionava para alunos da Escola Politécnica e já tinha quase a mesma idade dos estudantes, o que facilitava sua comunicação e conexão com eles. Seu doutorado foi focado em sistemas de reação-difusão, uma área de pesquisa que explica fenómenos como padrões em pelagens de animais, realizado nos Estados Unidos no Instituto de Tecnologia da Georgia, sob a orientação de Jack Hale, amigo de sua família.

Mesmo em um período desafiador de sua formação acadêmica, Sérgio sempre se mostrou aberto a colaborações. Certa vez, ele participou de um projeto com um engenheiro que buscava resolver o problema do "rotating stall" em rotores de helicópteros, um fenômeno que causava falhas catastróficas nas turbinas. Essa experiência resultou em um modelo matemático valioso que ajudou a descrever e lidar com o problema, mostrando assim sua habilidade em aplicar a matemática em desafios práticos.

Fora do ambiente acadêmico, Sérgio era um entusiasta do escotismo, atividade que o levou a construir uma família; ele foi casado por 16 anos com Mariana Resnik. Seus amigos e conhecidos ressaltam que ele possuía uma habilidade única de ouvir as pessoas e oferecer o apoio que cada um precisava, seja através de um conselho, um abraço ou mesmo uma palavra de conforto. Mariana recorda: "Ele sempre soube ouvir e dar o que cada um precisava".

O casal compartilhava muitas atividades, incluindo cozinhar, desfrutar de refeições com amigos e caminhadas, como o emblemático Caminho do Sol, onde caminhavam mais de 20 km por dia, totalizando 241 km entre Santana de Parnaíba e Águas de São Pedro.

Na USP, Sérgio teve um papel importante na criação de um bacharelado noturno em matemática aplicada e computacional, além de contribuir para a expansão do transporte circular na Cidade Universitária, um projeto que exigiu pesquisa estatística detalhada. Ele também atuava como diretor do IME e coordenava as relações internacionais na Agência USP.

Amigos e colegas, como Cláudio Possani, destacam sua capacidade de resolver conflitos e sua habilidade em facilitar a comunicação: "Ele tinha habilidade de conversar, explicar, aparar arestas e evitar conflitos."

Além de seu impacto na academia, Sérgio era reconhecido pelo profundo cuidado que tinha com seus alunos. Stephanie Blum, uma ex-aluna e amiga, compartilhou que "Sérgio não era apenas um conselheiro; ele se importava de verdade. Essa diferença salvou minha vida". Sua empatia e preocupação verdadeira em ajudar fez toda a diferença na vida de muitos alunos, que encontraram nele não apenas um professor, mas um verdadeiro mentor.

Infelizmente, Sérgio faleceu no último dia 12 de março, aos 59 anos, durante um tratamento de leucemia. Sua morte deixou um vazio imenso na comunidade acadêmica, que prestou diversas homenagens em sua memória. Instituições como a SBM (Sociedade Brasileira de Matemática) e a SBMAC (Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional) expressaram seu luto, enquanto amigos, alunos e admiradores lamentam a perda de um ser humano extraordinário. Sérgio deixa sua esposa, Mariana, as filhas Rebeca e Isabel, os enteados Giovanna, Moreno e Antonio, além de seus irmãos Victor e Ricardo, seus pais Sérgio e Teresa, e uma legião de amigos e estudantes que nunca esquecerão seu legado.