Uma investigação recente intitulada "Cuidado de saúde à Covid longa: necessidades, barreiras e oportunidades no município do Rio de Janeiro" revela que a Covid longa representa uma significativa emergência de saúde pública que ainda é subestimada e mal atendida.

A Covid longa, que se refere a sintomas persistentes ou novos que surgem após a fase inicial da infecção por Covid-19, afeta milhões no Brasil. Este estudo, conduzido por uma equipe de especialistas e que incluiu vozes de pacientes que vivem a Covid longa, destaca a gravidade da situação, com 40% dos entrevistados hospitalizados relatando essa condição.

Dentre os sintomas mais comuns estão a fadiga extrema, agravamento dos sintomas após esforços, dores nas articulações e comprometimento cognitivo. Apesar da alta prevalência, apenas 8% dos pacientes receberam diagnósticos formais de Covid longa, evidenciando uma alarmante falta de conscientização entre os profissionais de saúde.

Os resultados do estudo, que envolveu uma ampla coleta de dados entre novembro de 2022 e abril de 2024, mostram que aproximadamente metade das pessoas internadas por Covid-19 precisaram de serviços de saúde para tratar problemas que surgiram ou pioraram após a infecção. Os serviços buscados incluem atendimento de médicos especialistas e exames laboratoriais, porém muitos enfrentaram longas filas e a falta de medicamentos essenciais.

Bastante preocupante é o fato de que mais da metade dos pacientes que procuraram atendimento especializado tiveram que recorrer ao setor privado, um reflexo das desigualdades de acesso à saúde mesmo sob um sistema que deveria ser universal, como o Sistema Único de Saúde (SUS).

Os pesquisadores apontam que a desinformação sobre a existência das clínicas pós-Covid no SUS, aliada à sobrecarga do sistema de saúde devido à pandemia, tem dificultado ainda mais o acesso ao tratamento adequado. Estima-se que, apesar da necessidade evidente, essas clínicas estão subutilizadas como uma opção de atendimento multidisciplinar.

A crise da Covid longa não se resume apenas aos aspectos físicos. Muitos pacientes relataram não conseguir cumprir suas obrigações profissionais, com grande parte deles sem acesso a licença médica ou benefícios formais, o que leva a um impacto econômico significativo nas famílias.

Para efetivamente enfrentar o desafio que a Covid longa representa, é imperativo que as autoridades de saúde implementem estratégias que incluam a educação contínua dos profissionais de saúde sobre a condição, a melhoria na coleta de dados e a formação de protocolos claros para o tratamento e acompanhamento dos pacientes.

Além disso, programas de reabilitação e suporte para saúde mental são crucialmente necessários, pois muitos pacientes enfrentam não apenas sintomas físicos, mas também dificuldades emocionais decorrentes da falta de compreensão de seus estados por parte de amigos, familiares e empregadores.

A boa notícia é que esforços recentes do Ministério da Saúde para expandir os serviços de saúde e acesso a medicamentos podem começar a responder a algumas dessas lacunas. Contudo, enquanto as instituições de saúde não se adaptarem de maneira mais eficaz à realidade da Covid longa, milhões continuarão a enfrentar um futuro incerto e repleto de desafios.