Pioneiros da IA: A História Ignorada dos Cientistas Japoneses
2024-12-14
Autor: Pedro
A história da inteligência artificial (IA) está repleta de figuras notáveis, mas uma grande parte dessa narrativa tem ignorado contribuições cruciais de pesquisadores japoneses. Quando se fala das raízes das redes neurais, a atenção se volta frequentemente para nomes ocidentais como Geoffrey Hinton e David Hopfield, enquanto cientistas do Leste Asiático, como Kunihiko Fukushima, permanecem à margem.
Essencialmente, a forma como a história da IA tem sido contada tem se concentrado quase que exclusivamente no Ocidente, especialmente nos Estados Unidos. O desenvolvimento da IA durante a década de 1950 até os anos 60 foi elétrico, mas muito do que foi feito fora do eixo Atlântico, como as descobertas de pesquisadores japoneses, permanece invisível.
Durante esse período considerado o “inverno da IA” nos anos 1970, que foi marcado por um esfriamento nas pesquisas, alguns cientistas, como os finlandeses e ucranianos, e em particular, os japoneses, estavam realizando trabalhos que moldariam o futuro do aprendizado profundo. O interesse por essas inovações é indispensável à medida que a sociedade avança com essa tecnologia disruptiva. Com o crescimento em importância e complexidade da IA, precisamos de uma visão mais global, que não se limite às narrativas convencionais que saem do Vale do Silício.
Em um projeto recente, três pesquisadores, incluindo Yasuhiro Okazawa da Universidade de Kyoto, revisitaram o trabalho de Kunihiko Fukushima. Ele foi o criador do Neocognitron, um sistema que facilitou a evolução das redes neurais convolucionais, essenciais para a compreensão e reconhecimento de padrões visuais.
O laboratório em que Fukushima trabalhou, vinculado à NHK, a emissora pública do Japão, surgiu de um interesse não apenas tecnológico, mas psicológico. A NHK, a exemplo da BBC, estava interessada em como as audiências reagiam à televisão, resultando em um laboratório voltado para a “biônica da visão”. Essa pesquisa apontava para um interesse maior pelo funcionamento humano e pela psicologia do que pela simples criação de tecnologias automatizadas.
Fukushima não enxergava suas redes neurais apenas como ferramentas de IA, mas sim como representações das complexidades do cérebro humano. Esse enfoque na biologia e na psicologia contrastava com a direção que muitos pesquisadores norte-americanos estavam tomando, que se inclinavam para aplicações estatísticas em grandes volumes de dados, deixando de lado as questões mais sutis do entendimento da cognição.
Essa abordagem inovadora proporcionou a Fukushima um ponto de vista original sobre a IA, mas também levou a um isolamento de suas ideias em um momento em que o verdadeiro potencial de suas descobertas ainda não estava totalmente reconhecido. O fato de que ele foi visto por alguns como se estivesse envolvido em “engenharia médica” apenas atesta como as abordagens centradas no humano foram ofuscadas por algoritmos e dados das últimas décadas. A busca de Fukushima por descobertas que ajudassem a desvendar a complexidade da vida e da mente humana se perdeu na corrida por tecnologia e eficiência.
Embora Fukushima tenha se distanciado do aprendizado de máquina e suas aplicações, suas contribuições ainda são relevantes. A IA que se desvincula dos processos biológicos frequentemente enfrenta o desafio de ser vista como uma “caixa preta”, uma tecnologia cujas decisões e raciocínios são pouco compreensíveis. Uma volta a uma abordagens mais “humanas” pode ser a chave para criar um entendimento mais claro do que a IA realmente faz e como ela interage com as funções cognitivas humanas.
Enquanto a indústria da IA se preocupa com questões morais e éticas, é hora de reavaliar o que foi deixado de lado na narrativa da história da IA. Os desenvolvimentos feitos por pesquisadores como Fukushima devem ser reconhecidos, não apenas para garantir que eles tenham o lugar que merecem, mas também para ajudar a moldar um futuro da IA que respeite e reflita a rica tapeçaria de contribuições globais.
A visão de Fukushima e seus contemporâneos não se limitava apenas à tecnologia; ela abordava questões éticas e sociais que permanecem relevantes até hoje. O reconhecimento das contribuições globais na área de IA não é apenas uma questão de justiça histórica, mas também crucial para moldar a maneira como desenvolvemos e implementamos essas tecnologias no futuro.