Especialistas discutem soluções para os frequentes apagões no Brasil e as dificuldades para enterrar a fiação

O Brasil vive um cenário de constantes problemas devido à fiação exposta nas cidades. Quando fios caem, é como se a cidade entrasse em colapso. Os especialistas agora analisam maneiras de reduzir estes transtornos, e se enterrar a fiação poderia ser a solução tão esperada.

Recentemente, no bairro de Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, a fiação foi colocada em uma subestação subterrânea, uma prática que começou a ganhar espaço no Brasil na década de 1940. Porém, ao longo de mais de 80 anos, esse modelo de rede subterrânea pouco avançou. O Rio de Janeiro possui a maior cobertura de fiação subterrânea no Brasil, com apenas 11%, enquanto São Paulo alcança 7%. De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada, apenas 1% da distribuição de energia no país é realizada por redes subterrâneas.

Nas cidades que adotam esse modelo, como Nova York, Londres, Paris e Buenos Aires, existem várias vantagens: maior confiabilidade, menor risco de quedas de energia, uma vida útil superior a 30 anos e uma paisagem urbana mais agradável. Porém, nada disso garante que os apagões sejam eliminados. Brasília, apesar de contar com 74% da fiação subterrânea, já enfrentou diversos apagões.

Entre os fatores que dificultam a expansão desse modelo estão os altos custos de implantação, que podem ser até 8 vezes mais elevados do que a fiação aérea. Além disso, a manutenção de redes subterrâneas é mais cara e complexa devido à dificuldade em localizar problemas.

Nivalde de Castro, professor da UFRJ e especialista em transição elétrica, explica que a rede subterrânea é uma opção viável, porém cara: "Tecnicamente, seria o ideal, mas economicamente isso é um desafio. Vamos precisar de regulamentação que permita implantar essas redes de forma mais econômica, priorizando áreas de maior densidade, assim somente os consumidores que se beneficiarem daquela melhoria aceitariam pagar por ela".

Ricardo Brandão, diretor executivo de Regulação da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica, destaca que é essencial investir em tecnologia para melhorar a rede aérea já existente. A implementação de redes inteligentes, que utilizam inteligência artificial, pode ser a chave para evitar desligamentos totais durante falhas na rede. Em vez de cortar a energia de um bairro inteiro, seria possível desligar apenas algumas ruas, minimizando os impactos. Essa tecnologia, embora promissora, está em processo gradual de implementação conforme as distribuidoras realizam novos investimentos.

A complicada situação da fiação nas cidades brasileiras levanta a questão: até quando vamos conviver com apagões e com a fiação exposta em nossas ruas? A solução pode estar mais próxima do que imaginamos, mas requer investimento, inovação e, principalmente, vontade política para transformar o cenário atual.