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Queda do Regime de Assad Revela Império do Captagon na Síria

2024-12-13

Autor: Pedro

A recente queda do regime de Bashar al-Assad trouxe à tona milhões de comprimidos de captagon, a droga que transformou a Síria em um verdadeiro narcoestado. Rebeldes da coalizão liderada pelo grupo islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS) descobriram, em uma surpreendente inspeção, uma fábrica de captagon pertencente a Maher al-Assad, o irmão do ex-presidente, evidenciando a profunda interligação entre o regime e o tráfico de drogas.

"Após a inspeção, ficou claro que a fábrica era uma das muitas que operaram com a proteção de Assad", declarou Abu Malek al-Shami, um dos combatentes rebeldes que ajudaram na ofensiva relâmpago, que culminou na fuga de Assad para a Rússia, seu principal aliado.

Enquanto o paradeiro de Maher al-Assad, um temido comandante da Quarta Divisão do Exército sírio, permanece desconhecido, outro importante nome, Amer Jiti, também está sob sanções de Washington e Londres, sendo acusado de facilitar a produção e o tráfico de drogas em âmbito internacional.

Nos hangares de uma pedreira nas proximidades de Damasco, Abu Malek relata que a operação de inspeção revelou uma vasta quantidade de maquinário destinado à produção do captagon. "É de deixar qualquer um sem palavras, a quantidade de comprimidos e máquinas que encontramos aqui", afirmou ele.

A Síria, que após mais de uma década de guerra civil se tornou uma paria internacional, viu o captagon se tornar sua principal exportação. As consequências da guerra deixaram mais de meio milhão de mortos, mas a produção de drogas não só persistiu como se expandiu, com a Arábia Saudita se tornando o maior mercado consumidor.

O captagon não é apenas uma fonte de financiamento para grupos criminosos, mas também funcionou como um meio de pressão diplomática para o regime de Assad, que usou o tráfico como uma ferramenta para reinstaurar a Síria no cenário árabe. De acordo com Hernam Alghannam do Carnegie Middle East Center, "Assad sempre usou o tráfico de captagon como moeda de barganha nos seus esforços para reaver a legitimidade política do seu regime".

É importante ressaltar que, no contexto da guerra, o captagon se disseminou além das fronteiras da Síria. Na Arábia Saudita, a droga tornou-se uma preferência entre a elite rica, que utiliza o captagon em festas, enquanto trabalhadores modestos se voltam à substância para lidar com jornadas de trabalho extenuantes.

Recentemente, em uma demonstração de força, combatentes do HTS queimaram toneladas de comprimidos de captagon em um hangar do aeroporto militar de Mazzeh, em Damasco. Em um cenário insólito, muitas vezes o captagon é encontrado misturado com outros produtos, como Viagra falsificado, revelando a desordem no comércio ilícito.

A insurgência do HTS pretende interromper a produção e exportação de captagon, embora, segundo especialistas, essa atividade ilegal representa uma receita superior a todas as outras exportações legais combinadas da Síria, em um país cuja economia está em ruínas. A luta contra o captagon, portanto, não será uma tarefa fácil, mas os rebeldes estão determinados a reverter a trajetória de um negócio que se desenvolveu sob a sombra de Assad. E agora, a Síria se encontra em uma nova encruzilhada: será possível desmantelar esse império das drogas e devolver ao país uma chance de reabilitação econômica?