O embaixador brasileiro em Mianmar, Gustavo Rocha de Menezes, fez um apelo urgente por ajuda internacional após o devastador terremoto de magnitude 7,7, que abalou a região, já marcada por conflitos e guerras. "A situação em Mianmar é crítica, e a necessidade de apoio não pode ser ignorada", afirmou o diplomata em entrevista ao Correio.

Com um cenário de guerra e intensa luta étnica, o terremoto acrescentou mais complexidade a uma crise humanitária já existente. O embaixador revelou que a comunidade brasileira no país é de apenas 10 pessoas e recomenda que, neste momento, o turismo seja evitado devido à insegurança.

"Existem diversos grupos armados na região. Desde 2021, após a tomada do poder pela junta militar, a situação se deteriorou ainda mais. O terremoto piorou as coisas", explicou. Enquanto isso, a Índia e a China foram rápidas em fornecer socorro, enviando equipes de resgate, kits médicos e água potável para as vítimas.

As buscas por sobreviventes começaram imediatamente após o tremor, que, segundo as últimas estimativas, já deixou cerca de 1,7 mil mortos e 3,4 mil feridos. "Infelizmente, esses números estão mudando a todo instante, e as autoridades indicam que eles podem aumentar", disse Rocha de Menezes. Ele ainda esclareceu que não há registros de turistas brasileiros no local e reforçou o alerta para que ninguém viaje para Mianmar neste momento.

Os desafios se agravam devido à comunicação precária, já que o governo militar controla os canais de informação, e o racionamento de energia elétrica tem sido severo. "As dificuldades são normais em uma região que enfrenta desastres frequentes, como enchentes e terremotos", ressaltou o embaixador.

Desde sua independência do Reino Unido em 1948, Mianmar, com aproximadamente 54,2 milhões de habitantes, vive sob a opressão de um governo militar. O general Min Aung Hlaing, que lidera a junta, fez um raro apelo por ajuda internacional após o desastre. As relações diplomáticas com o Brasil, estabelecidas em 1982, são focadas em cooperação técnica, mas a crise atual levanta questões sobre a possibilidade de uma ajuda mais abrangente.

Além das dificuldades imediatas, o terremoto ocorreu pouco antes do Festival das Águas, um dos eventos mais significativos do país, celebrando o ano-novo. A festividade, que envolve rituais de purificação, representa um momento de celebração, mas, este ano, será marcado pela tristeza e pelo luto. A temporada de chuvas, que inicia em maio e se estende até setembro, promete agravar ainda mais a situação, aumentando o risco de enchentes e desastres.

"Mianmar já enfrenta uma condição bastante delicada, com aproximadamente 3 milhões de pessoas deslocadas pelos conflitos armados", alertou Rocha de Menezes. A necessidade de ajuda humanitária se torna cada vez mais urgente em um cenário de tragédia e incerteza.