Saúde

Uso de medicamentos para saúde mental cresce 18,6% no Brasil: Você está preparado para isso?

2024-10-10

Autor: Lucas

O uso de medicamentos destinados ao tratamento da saúde mental apresentou um crescimento alarmante de 18,6% nos últimos dois anos no Brasil. Um estudo abrangente, que incluiu 616.101 pacientes entre agosto de 2022 e agosto de 2024, revelou que 74% dos medicamentos adquiridos eram antidepressivos, enquanto 26% se referiam a ansiolíticos.

A pesquisa, conduzida pela Sandbox — uma empresa devidamente especializada em análises no setor de saúde — mostrou que, em média, cada paciente consumiu duas caixas de medicamentos por mês. Os antidepressivos eram utilizados por impressionantes 83% das pessoas entrevistadas, ao passo que os ansiolíticos apresentaram uma leve diminuição de 0,6% no uso entre os participantes do banco de dados.

Diogo de Lacerda, coordenador do Grupo de Referência de Transtornos de Ansiedade e do Humor da Santa Casa de São Paulo, destaca que a principal razão para este aumento no consumo de medicamentos são os crescentes transtornos mentais que afetam a população. "Hoje, as pessoas estão mais cientes de seus sintomas e buscam ajuda médica mais cedo. Isso é um avanço, mas também reflete no aumento do uso de medicamentos", explica.

Os dados do Ministério da Saúde são igualmente preocupantes. Em 2023, os ambulatórios da rede pública atenderam a 601.675 casos de ansiedade e 195.851 de depressão. No primeiro semestre de 2024, 448.816 pacientes buscaram apoio no SUS (Sistema Único de Saúde) para tratar esses transtornos.

A psicóloga Aline Sampaio acrescenta que tanto a ansiedade quanto a depressão estão profundamente ligadas às realidades e vivências sociais do Brasil. "Devido às nossas condições sociais, o país se posiciona entre os mais afetados pelo sofrimento emocional relacionado à ansiedade. Quanto mais dificuldades enfrentamos, maior é a probabilidade de vivenciarmos esses problemas", afirma.

Como funcionam os medicamentos?

O Ministério da Saúde esclarece que a depressão é uma condição crônica que requer tratamento integrado envolvendo terapia e a administração de medicamentos específicos, adaptados aos subtipos da doença e características pessoais de cada paciente. Os antidepressivos, por exemplo, atuam no aumento e regulação de neurotransmissores como serotonina e dopamina, que desempenham um papel crucial no equilíbrio do sono, prazer e bem-estar.

Além disso, esses medicamentos têm um efeito regenerador nas células cerebrais que frequentemente estão prejudicadas em indivíduos que enfrentam quadro de depressão ou ansiedade, de acordo com Lacerda.

Por outro lado, os ansiolíticos atuam no sistema nervoso central, promovendo um efeito calmante e reduzindo a atividade cerebral. Contudo, Lacerda adverte que o uso isolado de medicamentos pode não ser a melhor abordagem. A terapeuta Aline reforça a importância de entender os fatores subjacentes à ansiedade e à depressão, enfatizando que a terapia é fundamental para que os pacientes compreendam suas dificuldades e possam promover mudanças em suas vidas.

Dificuldades de acesso

Outra crescente preocupação é o encarecimento dos medicamentos. Os gastos médios mensais com medicações aumentaram de R$ 154 para R$ 189, incluindo uma elevação de R$ 19,50, equivalente a cerca de 25,9% no valor médio por caixa. Lacerda enfatiza a importância de garantir que os pacientes tenham acesso aos medicamentos, seja pelo SUS ou por outros meios, uma vez que essa acessibilidade impacta diretamente a eficácia do tratamento.

Entretanto, o acesso a tratamento psicológico adequado, especialmente para as populações de baixa renda, permanece um desafio. Consultas particulares costumam ser vistas como um luxo, e muitos não têm acesso a planos de saúde que cobrem essas especialidades.

Atenção desde cedo

O aumento do uso de medicamentos entre jovens é outro fenômeno preocupante. Um estudo da University College London e do Sutton Trust revelou que a prevalência de problemas de saúde mental entre jovens dobrou nos últimos 15 anos. É essencial que os jovens não apenas recebam medicamentos, mas também um suporte adequado para enfrentar as pressões contemporâneas, como os desafios escolares e as consequências da pandemia.

Iniciativas em escolas, como o projeto “Laços que cuida” criado no Colégio Unificado em Porto Alegre, promovem habilidades emocionais e espaços de diálogo para que os estudantes possam expressar seus sentimentos e reconhecer suas emoções em meio às exigências externas. Em outra escola carioca, o projeto “Seiva” utiliza práticas como rodas de conversa, trabalhos em grupo e ioga para ajudar os alunos a desenvolverem mecanismos de autorregulação e enfrentarem a ansiedade de forma positiva.

É crucial que a sociedade como um todo se conscientize e busque discutir abertamente sobre saúde mental, quebrando estigmas e criando condições para que todos tenham acesso a cuidados adequados. Afinal, o futuro da saúde mental da população depende de ações coletivas e acolhedoras que promovam o bem-estar. Você já parou para pensar no impacto disso ao seu redor?