
Votantes do Oscar criticam Academia por se recusar a apoiar diretor palestino
2025-03-28
Autor: Gabriel
Após a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgar uma declaração se recusando a apoiar o cineasta palestino Hamdan Ballal, quem sofreu um ataque brutal e foi sequestrado por soldados israelenses na última semana, diversos votantes do Oscar expressaram sua indignação.
O documentarista AJ Schnack, conhecido por seu trabalho em Kurt Cobain: Retrato de uma Ausência, foi um dos primeiros a reagir. Ele enviou um e-mail ao CEO da Academia, Bill Kramer, e à presidente, Janet Yang, manifestando sua decepção. "É difícil transmitir a minha frustração e raiva pela resposta inaceitável enviada aos membros da Academia. Estou chocado e enfurecido que vocês não reconhecem o sequestro e espancamento de um cineasta premiado como algo para debater com 'pontos de vista únicos'. Isso é simplesmente repugnante", afirmou Schnack.
Schnack continuou, chamando a atenção para as implicações desta postura: "A declaração deixa claro que a Academia não usará sua voz caso algo semelhante aconteça com outro membro no futuro. Esta instituição deve se posicionar, principalmente quando envolvem direitos humanos e liberdades artísticas. Não podemos permitir que isso se torne o padrão."
Nas redes sociais, a repercussão foi intensa, com muitos outros votantes se unindo ao protesto. Jehane Noujaim, indicada ao Oscar em 2014, agradeceu a Schnack e se comprometeu a escrever uma carta similar. A produtora Ina Fichman também enfatizou a importância do apoio coletivo, sugerindo que todo o departamento de documentários deveria se manifestar publicamente contra a postura da Academia.
A diretora Rachel Leah Jones, premiada com o Emmy pelo documentário Advocate, não poupou críticas. Ela declarou: "A resposta da Academia é devastadora e uma advertência para todos os membros, apelando ao conforto de uma elite predominantemente branca. Este não é um debate sobre 'pontos de vista únicos', mas sim sobre moralidade e questões de justiça."
A situação envolvendo Ballal ocorreu em 24 de setembro, quando ele e um grupo de palestinos foram atacados por colonos israelenses na Vila de Susya. Testemunhas afirmam que o ataque se intensificou rapidamente, com dezenas de colonos se unindo para agredir o grupo com paus e pedras. Ballal, que tentou chamar uma ambulância, foi posteriormente sequestrado pelas forças israelenses e levado para uma prisão. Ele foi libertado no dia seguinte ao ataque.
Seu filme, Sem Chão, co-dirigido com Abraham, Rachel Szor e Basel Adra, retrata a luta dos palestinos da comunidade de Masafer Yatta, no Sul da Cisjordânia, que enfrenta demolições sistemáticas de suas casas e instalações comunitárias por parte do exército israelense, com o objetivo de estabelecer um campo de treinamento militar na região.
A situação dos direitos humanos em áreas afetadas pelo conflito israelense-palestino continua a gerar polêmica e o papel da Academia neste debate é agora uma questão central, levantando preocupações sobre a responsabilidade de instituições artísticas diante de violações de direitos.