Em "Orbital", a obra premiada com o Booker Prize em 2024 da escritora inglesa Samantha Harvey, seis astronautas, entre eles quatro mulheres e dois homens, navegam pelo espaço na Estação Espacial Internacional (ISS). Durante esta extraordinária jornada, eles se tornam espectadores da Terra, refletindo sobre a vida na superfície e as pequenas tragédias que nela ocorrem.

Ao longo de sua missão, que visa testar os limites do corpo humano e realizar experimentos científicos, as tripulações recebem notícias emocionantes, como a morte da mãe de um dos astronautas, e observam formações meteorológicas devastadoras. Mesmo a milhares de quilômetros da Terra, o laço emocional com o planeta se torna mais forte, levando-os a questionar a fragilidade da vida humana e a responsabilidade que têm em relação ao nosso "planeta azul".

A autora descreve essa reveladora experiência: "Ver a Terra do espaço é como uma criança que olha para um espelho e percebe, pela primeira vez, que a pessoa no espelho é ela. O que fazemos a nosso planeta fazemos a nós mesmos".

Dentre os astronautas mencionados, destacam-se Sunita “Suni” Williams e Barry Eugene “Butch” Wilmore. Suni, uma veterana de missões espaciais de 59 anos, e Butch, piloto de testes da Marinha, encaram um novo desafio: um inesperado atraso em seu retorno para casa. Eles deveriam retornar para a Terra após apenas oito dias, mas uma falha em cinco dos 28 propulsores da cápsula Starliner os deixou em uma longa e incerta jornada, inicialmente prevista para durar apenas uma semana.

Esse atraso forçou tanto Suni quanto Butch a perderem compromissos importantes, incluindo feriados e aniversários, com a expectativa de retornarem apenas em fevereiro de 2025, ou possivelmente ainda mais tarde. A Boeing, fabricante da cápsula, enfrenta um momento desafiador, uma vez que a empresa precisa lidar com os custos crescentes e as falhas técnicas que afetaram o projeto. Em contraste, a SpaceX de Elon Musk se destaca como a alternativa promissora, possivelmente a salvadora da equipe, ao planejar uma missão de resgate com sua espaçonave Crew Dragon.

Além das dificuldades emocionais, os astronautas enfrentam também desafios fisiológicos significativos. A longa permanência no espaço pode causar inchaço facial, diminuição da massa muscular em até 30% e desmineralização dos ossos, aumentando o risco de fraturas e problemas de saúde. Assim, recuperação após o retorno é fundamental, e pode incluir um processo de reaprendizagem para voltar a andar normalmente.

Neste contexto, recomenda-se que Suni e Butch explorem a leitura de "Caminhar, uma filosofia" do pensador francês Frédéric Gros. O livro fala sobre a profunda relação entre o ato de caminhar e a descoberta da identidade, sugerindo que a liberdade se encontra na capacidade de nos desconectar das expectativas e abraçar o fluxo da vida.

A trajetória de Suni e Butch nos leva a refletir não apenas sobre o que é ser humano, mas sobre a relação entre a humanidade e o nosso planeta. A cada observação da Terra do alto, esses astronautas se tornam cada vez mais conscientes de sua conexão com a vida e com a responsabilidade que temos de cuidar do nosso lar. Será que eles conseguirão levar esta nova perspectiva quando, finalmente, retornarem à Terra? O futuro ainda é incerto, mas uma coisa é certa: a experiência deles no espaço mudará a forma como vemos nosso planeta e nossa existência.