Mundo

Com críticas à postura de Trump, Brasil e aliados garantem liderança na OEA

2025-03-10

Autor: Maria

Em um pronunciamento contundente contra a ofensiva americana que ignora os direitos humanos e o multilateralismo, o governo brasileiro desaprovou a instrumentalização da Organização dos Estados Americanos (OEA) e a prevalência da "lei do mais forte". Embora tenha evitado mencionar diretamente Donald Trump, Maria Laura da Rocha, secretária-geral do Itamaraty, enfatizou a importância do respeito ao direito internacional como antídoto para "o caos" que se espalha.

A diplomata relembrou como a OEA teve um passado destacado na defesa da democracia, embora tenha se mostrado relutante em condenar torturas e ditaduras militares. "Durante o auge da Guerra Fria, a OEA, assim como outras instituições multilaterais, se tornou refém das tensões entre Leste e Oeste. Enquanto Cuba era suspensa do convívio interamericano, os abusos cometidos em nome da democracia, como torturas e censuras, eram silenciados", explicou Rocha.

O Brasil também criticou a gestão recente da OEA, que estava sob forte influência do governo Trump. Segundo a embaixadora, "a lógica de exclusão e estigmatização daqueles que pensam diferente ressurgiu em algumas instâncias, permeada por uma visão maniqueísta reminiscentes da Guerra Fria, mas com novas roupagens". Ela ressaltou que, ao invés do diálogo e da negociação, a organização optou por sanções e partidarismos que pouco contribuíram para o fortalecimento da democracia na região.

A OEA, segundo Rocha, perdeu relevância e legitimidade em questões cruciais, como as crises na Venezuela e na Nicarágua, onde os países se distanciaram da organização nos últimos anos. “É hora de restaurar a confiança e a legitimidade da OEA, que devem emergir da força do direito internacional e do multilateralismo, em vez do caos advindo do unilateralismo”, afirmou.

Em meio a esse cenário, o Brasil propôs a ideia de resgatar um multilateralismo eficaz, que promova compromissos e consensos efetivos. "Precisamos de uma organização moderna, inclusiva e transparente, que ajude a promover os valores da paz e da dignidade humana consagrados na sua Carta", defendeu.

E não demorou para que os Estados Unidos, na figura da delegação de Trump, se opusessem às críticas do Brasil. A Casa Branca insistiu que a OEA deve continuar combatendo regimes repressivos, incluindo ações contra a Venezuela e Cuba, além de exigir uma postura firme contra a imigração irregular e o narcotráfico.

A lema do governo Trump se concentrou em assegurar que "adversários malignos externos" não interfiram nos assuntos da região, uma referência clara à crescente influência da China na América Latina. Essa resposta reafirma o desejo dos EUA de se manterem como protagonistas na política da região.

Diante desse embate diplomático, o Brasil conseguiu articular uma significativa coalizão com países como Chile, Colômbia, Uruguai e Bolívia, que resultou em uma apoio decisivo ao candidato indicado pelo Suriname ao cargo de secretário-geral da OEA, diminuindo as chances do diplomata paraguaio que contava com o suporte direto da Casa Branca.

A OEA é vista como uma ferramenta estratégica pela administração norte-americana para contrabalançar qualquer avanço de ideais de esquerda na América Latina. E, enquanto Trump tentava colocar aliados em posições de importância, o Brasil camada suas esperanças de um ambiente mais colaborativo e democrático na organização, contrastando com os planos da administração americana.

A articulação brasileira não só impediu o avanço de uma candidatura alinhada com os interesses norte-americanos, mas também promoveu um diálogo sobre a importância do respeito à soberania e ao multilateralismo na resolução de crises regionais. Afinal, como destacou a embaixadora, “o futuro das relações hemisféricas dependerá da capacidade de todos os Estados em cooperar para buscar soluções que beneficiem a todos.”

Com as eleições da OEA, o Brasil não apenas estabelece sua posição como um líder no cenário multilateral, mas também busca um novo início para a organização.

O que se pode esperar das mudanças na OEA sob nova liderança? Uma nova era de cooperação ou um longo caminho de desafios? O futuro será moldado pelas alianças que se formarem e pelo engajamento que cada estado demonstrar em prol de um propósito comum.