Descoberta de Novas Espécies de Sapo Revela Segredos da História Geológica da Amazônia
2024-12-07
Autor: Carolina
No coração da Amazônia, o Pico do Imeri, uma montanha inexplorada e de difícil acesso até mesmo para os indígenas Yanomami, revelou novas marcas de biodiversidade. Acesso só foi garantido graças ao apoio do Exército Brasileiro, que disponibilizou um helicóptero para a equipe de pesquisadores.
Destaque para a recente expedição, que marcou a segunda colaboração entre os cientistas e o Exército na região. A primeira, em 2017, levou ao reconhecimento de uma nova espécie de sapo no Pico da Neblina, a Neblinaphryne mayeri, celebrando a contribuição de Sinclair Mayer, um general do Exército.
Cientistas de diversas especialidades se uniram para analisar as descobertas e confirmaram que os sapos do Pico da Neblina e do Pico do Imeri são considerados espécies-irmãs. Esta relação genética evidencia que, há aproximadamente 55 milhões de anos, essas montanhas passaram por grandes transformações geológicas, alterando a dinâmica da fauna local.
"Estamos resgatando através dessas espécies um importante capítulo da evolução da Terra e da América do Sul que era desconhecido", afirmou o herpetólogo Rodrigues. As altitudes nas montanhas proporcionam um clima distinto do restante da floresta amazônica, permitindo o desenvolvimento de uma biodiversidade única.
Estudos de DNA indicam que essas duas novas espécies de sapos partilham um ancestral que habitava a Serra do Imeri há milênios, quando o Pico da Neblina e o Pico do Imeri eram fisicamente conectados. A erosão ao longo de milhões de anos produziu barreiras que culminaram em seu isolamento evolutivo. Isso demonstra como a geografia e a biologia estão interligados, algo que o geólogo da USP, André Sawakuchi, destaca.
"As barreiras geográficas podem incluir rios, florestas ou montanhas que condicionam a migração das espécies", explicou Sawakuchi. Essa separação geográfica foi fundamental para a evolução em ambientes distintos.
A colaboração entre biólogos e geólogos tem se mostrado vital para um entendimento mais profundo da biodiversidade tropicais, como ressalta a bióloga Lúcia Lohmann, da USP. Em seu trabalho na Amazônia, Lohmann tem coordenado a coleta de mais de 1.200 amostras de plantas, muitas delas novas para a ciência, incluindo espécies endêmicas.
"Esse trabalho é essencial, especialmente em um momento em que muitas espécies enfrentam a extinção. Documentar a biodiversidade é uma tarefa urgente para a ciência e para o futuro do nosso planeta", enfatizou Lohmann.
Rodrigues, que desde jovem coleciona insetos nas montanhas de São Paulo, agora se vê na vanguarda da descrição de novas espécies, tendo contribuído com quase 200 publicações científicas. A recém-descrita espécie de sapo, Neblinaphryne imeri, foi documentada em 2022 e publicada em Zootaxa este ano.
Esses avanços têm proporcionado a Rodrigues e sua equipe uma visão diante do desconhecido. "Estamos preenchendo lacunas da árvore da vida que podem ser fundamentais para a ciência", revelou. Com uma nova expedição já programada para 2025, Rodrigues e seu time permanecem determinados a revelar ainda mais segredos da biodiversidade brasileira.