Um novo estudo conduzido por especialistas da Unesp (Universidade Estadual Paulista) revelou que as chuvas não conseguem repor a totalidade da água consumida do Aquifer Guarani, uma das mais importantes fontes de água potável do Brasil e de outros países da América do Sul. A pesquisa, realizada na região de Brotas, no interior de São Paulo, destaca a dependência crítica das águas pluviais e subterrâneas para abastecer nascentes e rios, essenciais para o abastecimento urbano, agricultura e turismo.

O Aquifer Guarani se estende sob território de quatro países – Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina – abrangendo cerca de 1 milhão de quilômetros quadrados, dos quais aproximadamente 66% estão no Brasil. Sua riqueza é impressionante, com um volume total estimado em 30 mil quilômetros cúbicos. Contudo, a pressão do consumo humano e a poluição estão cada vez mais ameaçando este recurso vital.

Neste estudo, os pesquisadores monitoraram a composição das águas por meio de isótopos estáveis de hidrogênio e oxigênio, e os resultados foram alarmantes: cerca de 80% da água nas nascentes da região é proveniente do aquifer, enquanto apenas 20% se origina da chuva. Isso indica uma forte dependência do aquifer para a manutenção dos ecossistemas locais, especialmente em tempos de escassez de água.

São Paulo é responsável pelo consumo de aproximadamente 80% da água extraída do Guarani no Brasil, e a situação está se tornando crítica, especialmente em períodos de seca severa. O estudo mostrou ainda que o nível da água subterrânea já apresenta uma diminuição significativa, ultrapassando 100 metros em algumas áreas.

Os pesquisadores alertam que a excessiva exploração, aliada a secas prolongadas, pode levar a uma crise hídrica ainda mais grave. As experiências de 2014-2015 e de 2017-2021 em São Paulo servem como um sinal de alerta de que a situação pode se repetir, caso medidas de gestão e conservação efetivas não sejam implementadas.

"A recarga do aquifer é um aspecto fundamental que precisa ser compreendido. O estudo aponta que a água que vem das chuvas não é suficiente para compensar o que é usado", destaca Didier Gastmans, coordenador do Laboratório de Recursos Hídricos e Isótopos Ambientais da Unesp. Ele ressalta a necessidade urgente de estratégias de manejo sustentável para evitar um colapso no sistema hídrico.

O Aquifer Guarani é, sem dúvida, um recurso vital para cerca de 90 milhões de pessoas. Portanto, a pressão sobre suas águas deve ser tratada como uma emergência. As futuras ações para preservar este manancial devem incluir um monitoramento rigoroso e políticas eficazes de uso e gestão da água, garantindo assim a sobrevivência desse patrimônio natural para as próximas gerações.