Saúde

Eu recebi o diagnóstico de autismo aos 53 anos: uma nova perspectiva sobre a condição

2025-03-25

Autor: João

Recentemente, o presidente dos EUA, Donald Trump, e Robert F. Kennedy Jr., secretário de Saúde e Serviços Humanos, prometeram lutar contra o que chamam de "praga" do autismo, que afeta 1 em cada 36 crianças americanas hoje, comparado a 4 em cada 10 mil na década de 1980. Esse aumento alarmante tem levantado questões sobre as possíveis causas do autismo, levando algumas autoridades a investigar se as vacinas seriam culpadas. Contudo, a vasta maioria das evidências científicas refuta essa teoria.

O que muitos não entendem é que o aumento no número de diagnósticos pode ser um sinal positivo. Eu, como cientista com autismo, acredito que essa tendência reflete uma crescente conscientização sobre a condição, melhores métodos de identificação e uma definição mais inclusiva que abrange diversas condições de neurodesenvolvimento.

Minha jornada pessoal começou apenas aos 53 anos, quando, durante uma avaliação profissional, um psicólogo me sugeriu que eu poderia ter autismo. Estudos mostram que o diagnóstico tem se tornado mais comum, especialmente entre pessoas que não têm deficiência intelectual. Mudanças na forma como percebemos o autismo também são notáveis: antes, era identificado apenas em crianças com dificuldades severas, mas agora, há um reconhecimento crescente de que o autismo se apresenta de maneiras variadas, incluindo traços que podem ser mais sutis, especialmente em meninas.

Estatísticas recentes indicam que crianças que antes poderiam ser diagnosticadas com deficiências de aprendizagem estão recebendo diagnósticos de autismo. Além disso, há uma nova tendência de identificação em idades mais precoces, como aos 18 meses. Isso abre portas para intervenções mais eficazes e um suporte adequado desde cedo.

Um estudo feito na Coreia do Sul entre 2005 e 2009 revelou que 2,6% da população atendia aos critérios para um diagnóstico de autismo, uma taxa bem próxima da atual nos EUA, sugerindo que a prevalência pode ser consistente ao longo das décadas, mesmo que os diagnósticos tenham aumentado.

Com o estigma em torno do autismo diminuindo, pais têm se mostrado mais dispostos a aceitar e buscar diagnóstico para si mesmos, especialmente quando têm filhos diagnosticados. Essa abertura pode ser benéfica, pois o diagnóstico pode garantir acesso a tratamentos e apoio educacional que fazem toda a diferença no desenvolvimento das crianças.

Entretanto, ainda existe desalinhamento entre como diferentes grupos percebem o autismo. Alguns acreditam que o autismo precisa ser tratado como uma doença, enquanto outros defendem o conceito de neurodiversidade — que considera o autismo uma variação natural da experiência humana, sem necessidade de 'cura'.

Por fim, é crucial desmistificar a ideia de que o autismo surgiu em decorrência das vacinas. O verdadeiro desafio para a comunidade científica é desvendar as interações entre genética e fatores ambientais. Estudos indicam que mais de 80% do risco de autismo pode ser atribuído a fatores genéticos, com fatores ambientais, como a exposição a poluentes, também desempenhando um papel.

Mudar a narrativa sobre o autismo não é apenas benéfico para aqueles como eu, mas vital para ajudar famílias a entender e aceitar a condição. Reconhecer as diferentes formas de apresentação do autismo e buscar apoio adequado é fundamental para que tanto indivíduos autistas quanto suas famílias prosperem em um mundo que, apesar de seus desafios, pode ser muito acolhedor e inclusivo.